Domingos Carvalho da Silva


Na Despedida de Ignez

Estão mudos os poemas, não tenho mais tua voz para cantá-los. O som corre vazio nas palavras sem que teus ouvidos possam dar-lhes vida. A luz se extingue, pois tuas pálpebras estão cerradas para o sol e em teus olhos cresceu a longa treva sem a espera do alvorecer. Os rios não mais são necessários, pois já não corre tua memória em suas águas. Já não são necessários os caminhos, que não mais poderão seguir-te os passos. O livro que lias não chegou a abrir a última folha, as teclas do piano esperam esquecidas o afago vibrante de tuas mãos, que libertavam das pautas a harmonia. Perdeu nossa casa a presença grácil da castelã medieva, o perfil de virtude da senhoril esposa romana. Na face e nos lábios de pétalas dobradas vi-te partir mais bela que as rosas da manhã: as últimas que te ornaram foram cumprir contigo o teu silêncio.


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