A UNÇÃO PELA PEDRA
Maneira de morrer que João mereceu:
Não a morte explodida, cheia de alaridos
Como o mar que ressoa para o céu;
Nem a morte estendida, inchando vazios,
Como o sertão sem norte e sem véu.
No sofá (entre uma reza e outra), à frente
Da escultura de Weissmann, debaixo
Do rosto de Bandeira: silêncio latente.
A mão sobre a mão da amada — um fio
Sobre o nada; o olho sem ver e sem ler
— antevisão de tudo. Seco o rio,
O suspiro de quando o vento vem ver
A fisionomia do canavial — e o frio
Que nenhum fardão (farsa) disfarça.
E agora João é tão da terra onde plantara
Ondas, solta simetria mineralizada.
Daniel Piza, 18/10/99