Egito Gonçalves


Pedra de Fecho

Sobre o presente escrevo. Raspo a caliça do invólucro, tento atingir o cerne emparedado. Sobe até mim a esperança de supor que serei ininteligível aos leitores do futuro. Penso que acreditarão mórbida a minha "fantasia". Não poderão entender este gosto de saliva e veneno; esta floração de artérias abertas sob a raiva. Pensarão: "Que pavores o povoaram? Como acreditar na falta de saúde do tempo que descreve? Aceitaremos este emissário da dor, este vazio febril das mãos que estende? Entre o papel e a luz escrevo das moedas do agora. Pressagio que não entenderão, que não serão raros braços a arder os clarões na noite.


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