Paulo Eiró
Que Importa!
Em noite de vigília, a Deus voltado,
Fervoroso ergui súplica secreta;
Nem ouro nem poder pedi — somente
Coroas de poeta.
Ai! Bem conheço que o laurel dos vates
É diadema espinhoso, ervada seta
A sentir que sua alma punge e rasga...
Que importa! Sou poeta.
Que importa que minha alma assim feneça,
Sem crença, sem amor, erma, quieta,
Suspensa entre o desânimo e a saudade,
Se viverei poeta?
Que me importa que assim vegete, obscuro,
Qual cresce entre a folhagem a violeta,
Na vida a solidão, na lousa o nada,
Se me chamo poeta?
Que importa que meu gênio desditoso
Crestasse as asas como a borboleta;
Me estenda a morte os braços murmurando:
"Descansa aqui, poeta"?
Que o sol de minha vida seja o ocaso,
E o peregrino a suspirada meta,
Se, outro Tasso, terei na campa louros,
Se hei de morrer poeta?
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