Emerson dos Santos Moura

De Deusas e Meninos
                  
 
Ela olha aquele menino
Que ainda não perdeu totalmente
Aquilo que o faz menino...
Ele tem os olhos fixos nela
E a adora como se fosse uma religião
Ela em seu pedestal de mármore
Olha para baixo, talvez seja alto demais
Mas o menino nunca se importou
Ele acha que não poderia tocá-la
Talvez ela não seja para ele
Deusas devem ser veneradas
Mas será que deusas de carne resistem a tentação?
Tudo que ela diz parece um buraco negro
Traga a alma daquele menino
Mas ele permaneceu ali
Imóvel, constante como o tempo que não passa
Mas a religião lhe traz dor
E o menino chora como menino
O pedestal se racha lentamente
Deusa estática, olha o céu vermelho
Talvez o céu seja os olhos do menino
O pedestal afunda...
Talvez fosse miragem, mas sua deusa vem descendo
Deusa estática, sem perceber
Ele sorriu
Um sorriso tímido, perdido em pensamentos
Obscenos, ele é só um menino
O pedestal afunda...
Deusa estática, fita os olhos do menino
Heresia, ele é só um menino
Então ela compreende
Sua boca pertence a ele, sua língua penetra aquela boca de menino
Carne... tentação... paixão...
E o menino se ajoelha, segura a mão dela
Um último sussurro, e morre aos pés da deusa
Porque ele sabia que não poderia amar tanto assim...
Talvez por ser três de abril...
                                                                           
[ ÍNDICE DO AUTOR ][ PÁGINA PRINCIPAL ]
 
 
 
 
 Página editada  por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  25  de  Maio  de  1998