Fred Matos

Soneto ao Morto Mitificado
 
 
Na Tamburello, que não é reta nem curva
Em sua geometria dúbia,
Morreu Ayrton Senna da Silva,
Símbolo dos anseios dum povo débil.

Foi o Silva que deu certo,
Contrariando a sina dos Silvas comuns.
Morreu trabalhando no dia do trabalho
Como num recado ao país dos feriados.

Morreu imolado no circuito de Ímola
Como se vítima dum trocadilho bestial.
Milhões viram o choque fatal;

Na TV foi reprisado como se fosse ficção.
Como se, ao rebobinar o tape, fosse possível
Corrigir o rumo, freiar o carro, abstrair o muro.

                                                                     

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 Página editada  por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  22  de  Junho  de  1998