Fábio Afonso de Almeida


Sebastiana e a Pedrap

Todo o dia que amanhece Com chuva ou com sol, sempre acontece Sebastiana devagarinho, como um anjo Chega `a nascente da água mineral Rác, rác, rác, rác Sebastiana raspa o pé na pedra O pé raspa a pedra de Sebastiana (Será que a pedra tem espírito?) Sebastiana, sim, tem a pedra preferida Áspera, redonda e oferecida Pedaço de rocha primitiva e úmida De uma razão qualquer que desconheço Testemunho o encontro todos os dias Nas brumas das manhãs tão frias E fico cismando, como de hábito Sobre fatos pretéritos e misteriosos Quando na terra primeva do planalto central Entre raios e abalos sísmicos de força brutal Feios dinossauros passearam pelo parque E a água fria brotou da rocha Cristalina e pura, correu por milhões de anos No santuário mágico do poço dos anjos Alvoradas e arrebóis sem conta se sucederam O tempo hipnotizado se liquefez em eras... No fundo do poço desde sempre e agora A pedra, fico pensando, esperou a hora De passar a magia destas eras A quem, no fundo, sempre soubesse Alguém como Sebastiana, de outras vidas (Imagino que tão antigas e sofridas) Para trazer a manhã sempre calma Deste suceder infinito, presente para mim Sebastiana rala o pé na pedra O pé rala a pedra de Sebastiana O tempo vira água pura e pedra Como se não existisse Ou como se fosse Sebastiana... Rác, rác, rác, rác....


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