Álvaro de Campos
 
Que noite serena!
 
      Que noite serena!
      Que lindo luar!
      Que linda barquinha
      Bailando no mar!

      Suave, todo o passado — o que foi aqui de Lisboa — me surge...
      O terceiro andar das tias, o sossego de outrora,
      Sossego de várias espécies,
      A infância sem futuro pensado,
      O ruído aparentemente contínuo da máquina de costura delas,
      E tudo bom e a horas,
      De um bem e de um a horas próprio, hoje morto.

      Meu Deus, que fiz eu da vida?

      Que noite serena, etc.

      Quem é que cantava isso?
      Isso estava lá.
      Lembro-me mas esqueço.
      E dói, dói, dói...

      Por amor de Deus, parem com isso dentro da minha cabeça.

 
 
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