Álvaro de Campos
 
O ter deveres, que prolixa coisa!
 
      O ter deveres, que prolixa coisa! 
      Agora tenho eu que estar à uma menos cinco 
      Na Estação do Rocio, tabuleiro superior — despedida 
      Do amigo que vai no "Sud Express" de toda a gente 
      Para onde toda a gente vai, o Paris ... 

      Tenho que lá estar 
      E acreditem, o cansaço antecipado é tão grande 
      Que, se o "Sud Express" soubesse, descarrilava... 

      Brincadeira de crianças? 
      Não, descarrilava a valer... 
      Que leve a minha vida dentro, arre, quando descarrile!... 

      Tenho desejo forte, 
      E o meu desejo, porque é forte, entra na substância do mundo.

 
 
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