Álvaro de Campos
 
Ah, um Soneto...
 
    Meu coração é um almirante louco  
    que abandonou a profissão do mar  
    e que a vai relembrando pouco a pouco  
    em casa a passear, a passear ... 
 

    No movimento (eu mesmo me desloco  
    nesta cadeira, só de o imaginar)  
    o mar abandonado fica em foco  
    nos músculos cansados de parar. 
 

    Há saudades nas pernas e nos braços. 
    Há saudades no cérebro por fora. 
    Há grandes raivas feitas de cansaços. 
 

    Mas — esta é boa! — era do coração 
    que eu falava...  e onde diabo estou eu agora 
    com almirante em vez de sensação? ...

 

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