Álvaro de Campos
 
Os Antigos
 
    Os antigos invocavam as Musas. 
    Nós invocamo-nos a nós mesmos. 
    Não sei se as Musas apareciam — 
    Seria sem dúvida conforme o invocado e a invocação. — 
    Mas sei que nós não aparecemos. 
    Quantas vezes me tenho debruçado 
    Sobre o poço que me suponho 
    E balido "Ah!" para ouvir um eco, 
    E não tenho ouvido mais que o visto — 
    O vago alvor escuro com que a água resplandece  
    Lá na inutilidade do fundo... 
    Nenhum eco para mim... 
    Só vagamente uma cara, 
    Que deve ser a minha, por não poder ser de outro. 
    E uma coisa quase invisível, 
    Exceto como luminosamente vejo  
    Lá no fundo... 
    No silêncio e na luz falsa do fundo... 

    Que Musa!  ...

 
 
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