Álvaro de Campos
 
Vai pelo cais fora um bulício de chegada próxima
 
      Vai pelo cais fora um bulício de chegada próxima,
      Começam chegando os primitivos da espera,
      Já ao longe o paquete de África se avoluma e esclarece.

      Vim aqui para não esperar ninguém,
      Para ver os outros esperar,
      Para ser os outros todos a esperar,
      Para ser a esperança de todos os outros.

      Trago um grande cansaço de ser tanta coisa.
      Chegam os retardatários do princípio,
      E de repente impaciento-me de esperar, de existir, de ser, 
      Vou-me embora brusco e notável ao porteiro que me fita muito
      mas rapidamente.

      Regresso à cidade como à liberdade.

      Vale a pena sentir para ao menos deixar de sentir.

 
 
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