Fernanda Botelho
Amnésia
					Posso pedir, em vão, a luz de mil estrelas:
					penas obtenho este desenho pardo
					que a lâmpada de vinte e cinco velas 
					estende no meu quarto.
					Posso pedir, em vão, a melodia, a cor 
					e uma satisfação imediata e firme: 
					(a lúbrica face do despertador 
					é quem me prende e oprime).
					E peço, em vão, uma palavra exata, 
					uma fórmula sonora que resuma 
					este desespero de não esperar nada, 
					esta esperança real em coisa alguma.
					E nada consigo, por muito que peça!
					E tamanha ambição de nada vale!
					Que eu fui deusa e tive uma amnésia,
					esqueci quem era e acordei mortal.
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