Francisco Bernardino Ribeiro


Ode

(Ao Algoz de 24 de maio de 1833 - S. Paulo)
Eu vi um homem?... ou me ilude a mente! Que horror que eu sinto!... Homem! não, não eras, Tranqüilo fratricida. Como pudeste, ó monstro, Áridos olhos atentar na vítima Desfalecida, exangue? Como pudeste impávido roubar-lhe Miseranda existência com os redobres De angústias repetidas, Sem o brado ouvires, Que dentro da alma rompe, e clama: "É homem, E homem desgraçado?!" Como o pudeste sem arrepiar-te As carnes frio horror? Sem ver diante Esquálido fantasma Habitador dos túmulos, Com a mirrada mão prender-te os braços, "É teu irmão!" — chamar-te? Que é desse coração, que o ser te alenta? Ainda palpita? Não. Quente de crimes O sangue infeccionado Dispara só arrancos. E cada arranco ordena um atentado. Deixaste de ser homem! És aborto do inferno, ente perverso, Nasceste apenas para ser vergonha, Opróbrio da existência. É mais que tu ditoso Aquele que arrojaste à sepultura Que tuas mãos cavaram. Esse ostentou furores desastrosos; Mas não mostrou à face do Universo, Que surdo à natureza, Já saciado tigre, Em paz — com as garras meneava a morte Para extinguir humanos!

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