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Francisco
Egídio Aires Campos
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Solipsismo.
Ah! Solidão cruel e destrutiva,
Esta que pari passu me acompanha,
E no correr dos dias força ganha
De forma tão voraz e imperativa..
No meu tempo de antanho, quão altiva,
Era minha alma ao encarar o mundo,
Hoje me sinto qual um moribundo
Deglutindo o amargo da saliva.
Talvez queira o destino que eu viva
Balouçando-me em sua teia como aranha
E que o odor funesto e nauseabundo
Da cloaca da mente que ele assanha,
Me transforme em senil meditabundo
Que a contragosto a tudo sobreviva! |
Horas mortas.
A solidão me chega a altas horas,
E num crescendo em minha alma se expande..
Que me mantenha quedo, corra ou ande,
De mim jamais se afasta até que a mande,
...embora a madrugada...
toda noite me traga... e é tragada,
pelo raiar do dia e não espera,
como costumam agir as bestas – feras,
de costumes mortais, crepusculares.
Será que a outros, em outros lugares,
Também espreita a solidão daninha
Que a altas horas em minha alma se aninha
Como o amor se aninha em outros lares??
Quem manipula as forças invulgares
Que à alguém cercado de amores familiares
Dá moto a solidão igual a minha? |
Insano desejo
São altas horas e o sono não me chega,
Me amarga ao peito a dor que me devora...
Dor crucial que a solidão aumenta
Que me acabrunha a alma e desalenta
O viver infeliz que vivo agora.
Quisera ver por fim soar a hora,
Do encontro fatal com a megera
Que ao ser humano do penar libera
Alforriando a alma combalida.........
Por que viver se é tão amarga a vida?
Ah! Quem me dera que viesse agora.............
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Meu anseio.
O meu desejo constante
É ver surgir o instante
Embora tardiamente,
Aonde me seja dado
Puder cumprir o meu fado
Falando o que o peito sente.
Conclamar a humanidade
À que antes que seja tarde
Mude seu procedimento,
Respeitando a natureza,
Não destruindo a beleza,
Usar mais comedimento.
Que os jovens sejam educados
Pôr programas já voltados
A transformar-lhes o pensar,
Que os faça agir diferente,
Que não sejam como a gente,
Que comecem a restaurar.
Que surjam gerações novas
Que já venham dando provas
De haver compreendido,
Que só salvarão o mundo
Agindo sempre segundo
O que tenho difundido.
Que repovoem as florestas,
E que restaurem o que destas
Já havíamos destruído,
Que a mata atlântica replantem,
E que um novo hino cantem
Após o haver conseguido.
Que despoluam os rios,
E aumentando seus brios
Os repovoem também,
Restaurem as terras exauridas
Que entendam que todas as vidas
De só uma força provém.
Que respeitem as vocações
Da terra, e tirem lições
De tudo que ela ensina,
Usem os campos para o gado
E não destruam os cerrados,
Modifiquem suas sinas.
Protejam nossas nascentes,
Respeitem as vidas das gentes,
Que antes aqui já haviam,
Que viviam nas florestas,
Em harmonia com estas,
E aprendam o que sabiam.
Que acabem a poluição,
Deixem de lado o carvão,
Não usem o petróleo mais....
Seus dejetos reaproveitem,
Que a vida em geral respeitem,
Mormente as dos animais.
Quando todos agirem assim
Haverá na terra enfim
A força restauradora
Que tudo consertará,
E a vida reinará
De forma mais duradoura.
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SONETO SEM NOME
Se o amor te busca , não o recuses ;
ao ver arfar-lhe o peito , o seu carinho ,
junta-te a ele , e faz do seu caminho
o teu ; ........e com carinho o cruzes .
Em ti se acenderão milhões de luzes ,
Que haverão de iluminar-te plenamente,
Tornando-te um se irisdiscente,
E que te livrarão das tuas cruzes.
se tu buscas o amôr isto difere
em tudo ao resultado precedente,
tornando-te aos poucos tão descrente ,
E toda paz a que o amor infere ,
na tua busca , em mágoas se transfere ,
e sofrerás o amor eternamente . |
A HILÉIA
I
As florestas tropicais , eu as conheço ,
nelas sinto-me pleno de alegrias ,
passo nelas em vacâncias vários dias,
gozando duma paz que não tem preço .
Seus perigos porém eu os conheço
e assim , por conhece-los os evito,
os localizo fácil , e se os fito
deles me afasto e sigo outro caminho ,
e a selva me trata com carinho
pois também faço parte do infinito .
II
Porém aos que seus códigos desconhecem ,
e por tal ignorância não os respeita ,
a selva é como a morte que espreita
uma vítima indefesa que aparece ;
e seu vergel tão lindo , e que parece
obra prima de mestres inspirados ,
em breve o cercará dos quatro lados
e seus meandros em dédalos afigura ,
após passar a noite horrenda e escura ,
nem vestígios haverão dos passos dados .
III
Ao tentar penetrar-lhe nos liames ,
o ser humano esbarra na grandeza
que emana da própria natureza ,
e tem que se amoldar aos seus ditames .
É que oculto em meio aos seus enxames
de insetos que pululam , e são milhões ,
ela mantém ocultos os guardiões ,
que não dispondo de meios motores ,
os utilizam ali como vetores ;
Protozoários plasmodiuns ,em legiões .
IV
Em seus baixios onde fervilham vidas ,
que são as larvas de insetos e alevinos ,
centopéias , lagartos e girinos ,
de formas mil e multicoloridas ,
contém em suas águas escondidas
enormes sucuris que ali espreitam ,
suas prováveis presas e as estreitam
em seus anéis mortais e constritores ,
e os jacarés , temíveis predadores
que sonolentos em suas margens deitam .
V
E os pequeninos sapos azulados ,
cujo veneno mortal é fulminante ,
liquida ali a vida , num instante
aos homens que por ele são tocados .
E ao anoitecer , vilões alados ,
saem de ocos e cavernas onde dormitam,
são os morcegos hematófagos que habitam
por vastas regiões e são vorazes ,
e que ao sugar o sangue são capazes
de matar com as doenças que transmitam .
VI
As cobras peçonhentas , as “armadeiras” ,
as “traçangas” , lacraias e escorpiões
Que protegem com dentes e ferrões
tal como a viúva negra e as tocaneras
As cabatatus , e as cabas-caçadeiras ,
que com seus cúspides atacam decididas ,
a perder em tal ação a própria vida
de forma valorosa e sem receio ,
pois agem em proteção ao próprio meio ,
ao qual se integram e vivem protegidas .
VII
Se em covis e macegas ao dia somem ,
saem nas noites escuras em caçadas ,
enormes “jaguar - açus” , onças pintadas ,
que a qualquer animal abatem e comem ,
e ante as quais é simples caça o homem ,
e por sinal por elas apreciada
talvez por ter a carne assemelhada ,
aos primatas que são bem mais capazes ,
escapando-lhes aos instintos tão vorazes
por escalarem lépidos as ramadas .
VIII
Todos os seres por mim mencionados ,
e que cruéis da minha pena emergem ,
são fiéis guardiões , e só protegem
os tesouros ali depositados .
Tesouros estes já delapidados ,
pela ambição dos inescrupulosos ,
que de forma terrível , impiedosos ,
em busca de fortunas tão fugazes,
destroem algo que não são capazes
de construir , embora que engenhosos .
IX
São as espécies de frutas apetitosas ,
de sabores exóticos , que permeiam ,
as densas matam onde serpenteiam ,
igarapés de águas sulfurosas .
São seivas , cascas e flores olorosas ,
que colhidas e bem manipuladas ,
poderão em cosméticos serem usadas
e sementes , folhas , frutos e raízes ,
de diversos formatos e matizes
com os quais doenças podem ser curadas .
X
Em baixo do seu solo arenoso ,
encoberto pelo húmus que a sustenta ,
e que com a própria morte alimenta ,
esconde-se um subsolo portentoso
onde dorme um tesouro tão faustoso ,
sendo causa primaz desta ruína
que se abate sobre ela , e à chacina ,
de forma quase que irreversível ,
modificando de modo já sensível ,
o habitat do ser que a maquina .
XI
A solução é simples e se revela ,
na própria reação que a ação
provoca ,
porque a natureza reciproca ,
o bem ou mal que provocamos a ela ,
pois as forças telúricas que estão nela
fazem parte do UM , e estão ligadas
entre si , e sempre são usadas ,
de forma UNA ,mas complementares ,
que a um simples buraco que cavares ,
em outros planos há FORÇAS implicadas .
XII
Se pouparmos as florestas , e as cuidarmos ,
qual cuidaríamos de nossas crianças ,
talvez ainda as deixemos por heranças ,
aquelas que nos restam , se as salvarmos
e num esforço conjunto replantarmos ,
aquelas que destruímos , arrependidos ,
e aos animais que mantemos detidos ,
de bom grado ali os libertarmos ,
talvez seja possível alcançarmos
o STATUS a que fomos CONCEBIDOS
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LÍGIA
I
Te vi criança , e continuo a crer-te ,
Tal como eras , cândida e até franzina ,
e o mesmo algo , no rosto de menina ,
de angelical , que impede-me de esquecer-te.
II.
Meu desejo de então era de ver-te ,
como modelo a uma filha que eu fizesse ,
para que tendo-a igual , também tivesse ,
o privilégio sem par de sempre ter-te .
III
Por ti pequei de inveja , agora vejo ,
naquele sonho que ao longe se vai ,
pois no fundo do peito o que eu queria ,
IV
o sentido real do meu desejo ;
era do ouvir a chamar-me de pai ,
alguém angelical como eu te via
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AB IMO PECTORE .
I
Eis que se foi, e ao ir levou consigo,
uma parte de mim que em si retinha,
por acaso o pedaço que continha .
amor, pois que a dor deixou comigo.
II
Amargurado vivo , e só prossigo ,
nesta estrada espinhosa onde dardeja,
raios do sol da dor , e que onde esteja,
atingem-me sem cessar, como um castigo.
III
Quão longe está de mim, embora a veja,
e amiúde até cruze consigo
,...
seu olhar é desdém e me alveja .
IV
Pois que se foi , e ao ir levou consigo,
o fino fruto que minh’alma almeja,
o amor , pois que a dor deixou comigo.
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O CEGO
I
Vinde comigo e eu serei teu guia,
pois o caminho que adentrais conheço,
vinde; mostrar-te-ei todo tropeço ,
que antes , como tu , também não via.
II
Se sofro hoje, sei; bem o mereço ,
fosse eu mais previdente e não teria ,
seqüelas dos desvios que seguia ,
causas dos tropeções do meu começo.
III
como teu guia hoje me ofereço ,
assim não andarás desnorteado ,
ouve-me; eu te direi como faria ,
IV
caso tivesse um guia do meu lado,
mostrando-me tropeços do meu fado,
que antes como tu também não via .
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Meu Sonho Utópico
1
Sonhei que se o amor em mim brotasse,
E que se o broto robusto, em mim crescesse,
E na medida em que forte florescesse,
Inundasse meu lar como um encanto.
2
E depois de expandir-se a cada canto,
Por janelas e frestas extrapolasse,
E nas fronteiras vizinhas penetrasse
Contendo as dores , exterminando o pranto.
3
E que em cada nova casa um novo tanto,
Crescesse, florescesse e se expandisse,
E em cada lar assim se repetisse
Iridescente qual áurea de um santo.
4
Que enchesse todo o bairro como um canto,
Mavioso de amor que todos ouvissem,
E que ouvindo-o em si também sentissem
Para longe fugirem a dor e o pranto.
5
Que a cidade então contaminada
Por meu sonho, de amor se consumisse,
E que o país assombrado o exemplo visse
E encetasse a mesma caminhada.
6
E a terra toda fosse iluminada
Pelo amor que a todos atingisse,
Tal como o paraíso que predisse ,
O profeta Isaias, e abençoada......
7
Em relhas de arado transformadas
Seriam as armas, sem que se impedissem,
Repartiriam os bem, quem os possuísse
Entre as almas famintas e amarguradas.
8
....Era o meu sonho, e como todo sonho,
Esvaeceu-se, ...........efêmero que era,
Destruindo a alegria que me dera,
Ante o albor de um amanhecer tristonho
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