Subject:
Ôme, seu minino, nun dexe de lê isso pelo amô de meu
Padim Pade Ciço ! [arranje um tempim.]
Date:
Sun, 6 Aug 2000 16:56:38 -0300
From:
"Francisco Egidio Aires Campos" <megidio@amazon.com.br>
To:
<jpoesia@secrel.com.br>
Amigo Feitoza, nos últimos oito meses compus bem mais de cem poemas
que
denominei ´´poemas pós fuga.`` este é um
deles. Gostaria muito de divulga-lo. quebra
essa??
teu Eterno benquerente; Egidio.
NATURA
1
Eu Sou a mãe caótica, o Demiurgo,
Criadora de tudo, tudo hei feito,
A imensidade eterna do meu feito,
É explosão, implosão, sorver, expurgo,
Organizo e desfaço a urbe, o burgo,
E a metrópole superpovoada........
E na paisagem heróica descarpada
Organizo os rochedos do meu jeito.
2
Sopro as nuvens a vagar no firmamento,
com canícula cruel aqueço as rochas
num calor ígneo de milhões de tochas
e após esfrio-as, a rocio, chuva ou vento,
provocando-lhes o estilhaçamento
que modifica a face das montanhas.....
e no imo da terra, em suas entranhas
fundo ao Meu bel-prazer metais e rochas.
3
neste mundo caótico, onde ao atrito
das tectônicas placas calor gero,
e onde o tempo inexiste, eterna espero,
acumulando a força do meu grito,
que com clangor emergirá aflito
junto ao nascer caótico de um mundo
que surgirá do meu gestar profundo
junto a telúrica força que libero.
4
a amorfa lava fundente ao mar Resfrio,
em escaldantes nuvens vaporosas subo
e em nimbosas cinzas a tudo cubro,
e a tepidez brumosa lembra o frio
e as novas rochas a proa de um navio
que em nórdica paisagem errante vaga,
mergulha e emerge de imensa vaga
onde ardilosamente o exponho e encubro.
5
a insólita ilha, negra e fumegante,
resfriarei ao decorrer das eras,
e úmidificando o húmus das crateras
farei surgir a vida verdejante,
e ante o ETERNO, no ápice de um instante
a vida surgirá variegada
e explodirá como a surgir do nada
e inundará a ilha, palpitante........
6
Minha força telúrica inascida,
Não posso rotular de má ou boa,
Pois se um dia ela ativa o Krakatoa
Destruindo de forma inconcebida,
Normal e continuamente explode em vida
Em todos os quadrantes e hemisférios
Prodigalizando a força dos mistérios
Tornando seu arcanos coisas - atoas.
7
ao hálito das Minhas ventas, Herculano
protegida de Zeus, de Ares e Réia,
teve o mesmo destino de Pompéia,
pois ao velho Vesúvio despertando
a ambas soterrei, ...... e as soterrando
em pó e cinzas pela eternidade,
as conservei para a eternidade
e ainda hoje há gente as visitando.
8
nos confins do espaço onde EXISTO
como buracos negros que consomem
universos e galáxias que se somem
em vertiginosos vórtices jamais vistos,
onde consumo a luz, igual aos quistos
cancerosos a consumir matérias
e aos cancros constantes da miséria
que emergem da vida e sugam o homem.
9
EU provoco o choque de planetas,
Gero a força que cria os turbilhões,
Movo um dedo e provoco furacões,
Sou os gases da cauda dos cometas,
Fui o eco das bocas das trombetas,
Que vibrando tombaram Jericó....
Sou a força da vara de Jacó,
E o terror do urro dos leões.
10
Sou o protozoário plasmodium das sezões,
......................Sou a febre maligna terçã,
.................Sou a bela feiúra de uma anã
e o orgulho contido nos brasões........
sou a calma do meio dos furacões
e o terror das calmarias no oceano,
a maldade bondosa do cigano
e toda a força crística de satã.
11
Sou a mãe que engendra a natureza,
O amor maternal é Minha marca,
SOU de tudo que existe a matriarca,
Que retenha a feiúra ou a beleza,
A nobreza congênita, ou a vileza,
O maligno instinto... cruel ou manso,
O agitado bem ou o mau descanso,
O saber de Tirésias e de Petrarca.
12
Sou a imponência inata do monarca,
A aparência humilde de um gusano,
A arrogância cruel de vil tirano,
A brisa mansa que impele a barca
E a fulminante força, que da arca
Fulminava o impuro que a tocasse...
E a vara que se möshe levantasse
Abriria as águas do oceano.
13
Sou a força telúrica dos dilúvios,
Sou o Dom de Noé e Gilgamés,
sou a cesta de vime de moisés
e das benesses do inverno os Eflúvios.
Dirijo com Meu sopro os ´´nimbus pluvius``
Os despejando onde necessários,
E vibro vendo a vida em verdes vários,
Viril, varando as plantas dos Meus pés.
14
e Explodo, vida, em vales verdejantes
e Ondulo, brisa, o ouro dos trigais,
e Corvo, ataco o Dom dos milharais,
e Gafanhotos, turvo o horizontes....
Sou EU, nuvens de fome, e em instantes
Devoro tudo até o rés do solo,
E aos gafanhotos, como Fome, imolo
Em oblação expiatória a tudo o mais.
15
Sou Seregheti, Okavongo, vida...
Sou a explosão genial da fertilidade
E a Implosão da vida, que mais tarde
Desnudará ao sol a África exaurida..
Sou a terra rachada e ressequida,
O onésimo ano, o caos previsto,
Sou o Nilo, a benção do Egito
E o Saara, a mãe da humanidade.
16
Sou milhões de gnús que crescem e invadem
A delta fértil da foz do Okavongo,
Sou a cratera incrível do Ngorongongo
Onde a vida é perene e equilibrada...
Sou o leviatã que em Massai – mara nada
E dizima as manadas que o vadeiam,
Sou a chama dos fogos que incendeiam
A seu tempo, a Tanzânia, o Kenya, o Congo.
17
Sou o instinto cruel do leão selvagem
que caça e elimina as crias do guepardo,
a Habilidade arborícola do leopardo
e as Forças descomunais que interagem
e o permitem ao alto das ramagens
levar a enorme vítima que o sustenta,
Sou a força vital que o alimenta
e a Morte cruel que nunca tardo.
18
............Eu capturo a cria da gazela
e com ela treino a minha jovem cria,
Eu caço a noite tanto quanto ao dia,
E fujo aos predadores como ela...
Eu sou a feia hiena e a leoa bela,
O belo orix, o ocapi estranho,
A alma coletiva do rebanho
E o frio sangue da constritor fria.
19
Dos elefantes a solidariedade,
Dos grandes corpanzis a estrutura,
as cascas, as raízes, as verduras
que os alimenta à saciedade,
e também sem resquícios de maldade
Sou a seca cruel que os elimina,
Sou o vento solar que a dissemina
numa aura cruenta de securas.
20
Eu Sou a força Búdica de Sidharta,
E a insana reação de shudodhana,
O veneno dos peitos de Puthãna
E a força de sucção que em Krishna à mata....
Sou o tigre caçando, que retrata
A quem o encontra a morte crua e certa,
Sou a seta sibilante que acerta
O gélido coração de Duriodhana.
21
Sou os monges febris que o Buda segue
Antes que minha mente o iluminasse,
Sou a fome cruel, que onde chegasse,
O esperava, e a sede que o persegue...
Sou a meta que sonha, e não consegue
Deslindar de uma forma inteligente,
Sou o morto, O senil e o Doente,
E o olhar com que fiz que me avistasse.
22
Sou de Maomé a ignorância nata
Desprovida de estudos e saberes,
Fui Eu que o coloquei entre outros seres
Luminosos, qual Cristo, qual Sidharta..
Transformei sua mente em mesa farta
Nas ciências de Deus, O iluminando
Numa Luz que ainda vem brilhando
Com orações, salvares e prazeres.
23
..........Gavial, arrebato uma criança,
E também Sou o Ganga que o abriga,
Sou o labor incessante da formiga,
Sou o terror marabuta que avança,
Sou o mal que antecede a bonança,
Crocodilo do Nilo, terror gero....
Epidemia que grasso onde quero,
Espada traiçoeira e mão amiga.
24
Sou o anjo contendor de Israel,
Esmaguei-lhe o nervo do quadril,
Sou Giulliano, Lampião, Quantril
E o amargo sabor que vem do fel...
Sou geleia real, Sou hidromel,
Sou bebida de deuses, Sou cicuta...
Sou as virgens vestais, sou prostituta,
E arquiteto da torre de Babel.
25
La nos santo dos santos Eu gerei
Por estupro, de forma violenta,
Quem, segundo os cristãos, agora senta
Ao meu lado direito, e Eu nem sei,
No calor do deserto eu o tentei,
Ele foi divertido e até ousado,
Eu Por isso morri crucificado
Mas à quatorze horas levantei.
26
Sou a massa total dos oceanos,
Sou a vida que neles prolifera,
Sou a fauce cruel da besta fera
E a feiura intrigante dos varanos,
E os corais que por milhares de anos
Se agregam em arrecifes e atóis,
Sou o peixe abissal, com luz e anzóis
Que vive em altas pressões e lá prospera.
27
Sou a orca que caça,...e a caravela,
Fogo liquido, translúcido e inocente,
O veneno maligno das serpentes
E a siba de cores cambiantes,
Sou a sede cruel dos navegantes
Que naufragam em meio ao mar bravio,
Sou o vento cortante, sou o frio
Que enregela o seu corpo de repente.
28
Sou o sol que aquece o indigente,
Sou a palavra amiga que o consola,
Sou a mão que sonega sua esmola
e que impede-lhe o sono nos batentes,
que o infesta de pústulas aderentes,
que lhe põe um mal cheiro nauseabundo,
que o transforma em um verme vagabundo
que a vílissima vida destiola.
29
Sou o fomentador das guerras santas,
Eu invento as armas tenebrosas,
E nas campinas onde Crio as rosas
Semeio a podridão de mortes tantas,
E as decomponho, em tais, e quais, e quantas
Formas que Me aprouverem e derem gozo,
Pois quanto mais ali Sou Êxitoso
Serão as Minhas graças mais famosas.
30
e as minas, Eu as enterro e abandono,
aos milhares e milhões ali as deixo
no megalomaníaco desleixo
de quem pode criar, e vai criando,
e prevendo o caos que vai gerando
multiplica o numero de aleijados
que famélicos vão desesperados
rodas vivas, girarem em frágil eixo.
31
Sou os cadáveres vivos da Etiópia,
As crianças emaciadas pela fome,
A pele garça, a carne que se some
Da múmia faraônica Sou a cópia.....
... e das pestes que grassam , a cornucópia,
assim como a indiferença dos omissos,
Sou a quebra informal dos compromissos
Sou a própria miséria que os consome.
32
Sou a força total do gênio humano,
Meta última de todo sacrifício,
Sou corrupto juiz do santo oficio
Que de modo cruel, vil e profano
Condena a cruel sina Giordano,
E queima a milhares de outros mais
Se apossando dos bens materiais
E ampliando seu dote pontifício.
33
O que Sou, Sou...e isto não é pouco;
...Sou a ausência eterna e infinita,
...Sou o olho imortal que tudo fita,
....do grande terremoto o rouco,
a genialidade latente do homem louco,
a lamúria tristonha da tormenta,
o assobio das frestas quando venta,
Sou a chuva que a nuvem precipita.
34
Sou o anuro, o réptil, o anelídeo
O celenterado que no húmus vive,
O necrófago que da morte sobrevive,
E a pele descartada do ofídio...
Sou o muro de pedra do presídio,
O horizonte sem fim da liberdade,
A virtude anormal da castidade,
E o aclive contido no declive.
35
Sou as massas polares e o granizo,
O núcleo do planeta, incandescente,
Sou o grande caudal, e a nascente,
O lucro material e o prejuízo,
A inteligência e a falta de juízo,
A força, a fortuna e a saúde
A fraqueza, a doença, o ataúde,
...bala perdida que mata o inocente.
36
Sou o cedro do Líbano, e a urtiga
A planta medicinal e a venenosa,
O odor da carniça, o olor da rosa
Sou a cruel verdade e doce intriga
A doçura da paz, o ardor da briga
Sou a ânsia de água do sulfúrico
Sou a origem do poder telúrico
Sou a musa da música, verso e prosa.
37
Da Amazônia Sou a exuberância,
E sua variedade fitogênica
Planta medicinal, e praga endêmica,
Chuva que se derrama com constância,
A vida variada, a abundância,
A sucuri, as cabas, as aranhas
O famélico cardume de piranhas
A força da enchente, a queimada blasfêmica.
38
do preguiça Eu sou a lerda calma,
Sou a veloz ansiedade da irara,
A beleza feroz da pirarara,
Do tímido jupará Eu sou a alma.....
Sou raízes, folha, caule e palma,
Lianas, parasitas, flores , frutos,
Os ferozes felinos, os monos astutos,
A gramínea comum, a orquídea rara .
39
Eu sou o boto rosa e o tucuxi,
O estranho matámatá e a perema,
As raízes laminares da sapopema,
A astúcia sagaz do coatí,
O singelo cantar do bem-te-vi,
O som peculiar do uirapuru,
Sou a batina negra do urubu
E o soro antiofídico da seriema.
40
Como botrópico, laquésico e elapídico,
Sou a letal peçonha das serpentes,
Da saracura Sou os sons plangentes,
Sou da coruja o cantar fatídico...
Do equilíbrio da vida o ponto crítico,
Sou o futuro Saara sob a mata,
Sou o ser ignóbil que me mata
Destruído-me os corpos e as sementes.
41
Sou a névoa matinal que se evola
Das florestas, e o frio que a condensa
Sou a sombra milenar da mata densa,
E o machado do homem que a imola,
Sou o tronco que sobre o rio rola,
Sou a serra e a plaina que o destricham,
Sou o guindaste que as tábuas guincham,
Sou o cargueiro, o braçal e o que pensa.
42
Sou o vento terral que cedo sopra,
E o vento mareal que a tarde o inverte,
E muda de lugar a duna inerte,
Sou a água de coco, Sou a copra...
Sou o trôpego tropel de toda tropa,
Sou as fontes termais e sulfurosas,
Sou os espinhos que guarnecem as rosas
E a anarquia que à ordem subverte.
43
Em Mim está contido o inexistente,
E o existente também está contido,
Sou a fonte do achado e do perdido
Ó mundo em evolução e o decadente.
Eu sou o refluir e a força fluente
Que impele a enorme vaga destrutiva,
Eu sou a enorme e inerme massa viva
E englobo tudo, que exista ou haja havido.
44
um simples grão de pó sou Eu......
e também a estrela mais fulgente,
e o maior corpo sólido existente,
e o sol que exaurido feneceu...
o arco – Íris que se esvaeceu,
o bólido errante que no espaço vaga,
a chama de uma vela que se apaga,
o elo forte e o fraco da corrente.
45
Sou a vanalidade das palavras atoas,
Ditas, escritas, ou imaginadas,
Que a coisas vivas ou inanimadas
Poderes inusitados, ou forças boas..
..ou negras...atam a Mim em tom de loas
como se Eu fosse algo descritível,
tentam realizar o impossível...
pintar o Todo em simples pinceladas.
46
Eu sou dos sons a variedade imensa,
E do silêncio a voz inusitada
E tal qual sou o tudo, sou o nada
Sou o sumo prazer, e a dor intensa
O castigo cruel a e recompensa,
A pura inteligência, a ignorância,
A exata coerência e a discrepância
A injustiça e a lei aplicada.
47
Eu sou o inimaginável !
Eu sou o inconcebível !
Eu sou o imperecível !
Eu sou o inominável !
Eu sou o impalpável !
Inimitável Eu sou !
Também oniparente
Total e onipresente...
...Só Eu sou o que Sou !
BELÉM, 30-05-2000
|