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Francisco Egídio Aires Campos
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Poesia:

  1. SONHOS DE UM “POETAÇO”
  2. LAVRADEIRO
  3. MEU CAIMBÉ
  4. CADÊ?

 
 

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Francisco Egídio Aires Campos
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SONHOS DE UM “POETAÇO”



Nos versos pés quebrados que eu faço,
Sem rimas e sem métrica, 
Revelo minha má veia poética,
..........Que embaraço!

Aos  versos os regurgito, sem estética
“Sem regra e sem compasso”,
E a mim servem de laço,
Os meandros da fonética.

Como posso rimar ética com métrica?
.............Ou compasso com laço?
Daí meu embaraço....... que faço?
....Que condição mais tétrica!!!

Quem me dera tivesse Dons poéticos,
De onde pérolas de versos aflorassem
De forma forte e fina, que ficassem
Perfeitamente estruturados e estéticos.

Seria  então como se germinassem
Vergéis floridos em meus jardins herméticos,
Poetar  versos bons........ não os patéticos
Versos que faço; ....e que  predominassem.

E que aos lindos versos que fizesse
Toda a posteridade que os herdassem
Os lesse,... os recitassem e os amassem,
Do modo que gostassem e que quisessem

Que quais dos grandes vates, quem os lessem,
... De pronto os decorassem,
sem importar o tempo que levassem,
... Jamais os esquecessem.

Que em todas as línguas os traduzissem,
Mortas ou vivas,.... e em seus dialetos,
E figurassem seus nomes entre os seletos,
Dos principais poemas que existissem.

E que mesmo outros poetas que os vissem,
Ao declamarem-nos se emocionassem
E assim catalíticos eles ficassem
Contaminando a todos que os ouvissem

E num longínquo futuro onde chegassem, 
A milhares de séculos ainda distantes,
Quais de Homero, Virgílio e Cervantes,
Dos catalectos vigentes eles constassem. 

Não que aos deles, humildes, se igualassem,
Ou calassem o que antigas musas cantaram
Mas como últimos seguissem aos que ficaram,
E em citações poetas os decantassem.

Que os poemas de amor, eu os fizesse 
Transmitindo as emoções que então sentisse
De modos que quem os lesse ou os ouvisse
As emoções que tive,...... ali tivesse

Que minha alma por mais que não partisse,
Desta terra, e por toda ela vagasse 
E até o fim dos tempos aqui penasse
A recitá-los em coda canto os ouvisse.

E se entre outras almas que encontrasse,
Quais futuros tirésias, ali estivessem
Todos vates antigos que  houvessem
Feito versos quais eu...... e os amasse.

Talvez os seus saberes me ensinassem
Os que de crúzios padres os receberam,
Ou mostrando-me as fontes onde beberam, 
Os antigos também me estimulassem.

E que se em outra vida aqui voltasse,
O destino ao trazer-me me trouxesse,
Condições propícias, e eu não tivesse
Que tão cedo trabalhar, mas estudasse.

Que todos os demais erros eu cometesse,
Qual nesta vida os tenho cometido,
E qual reincidente empedernido,
Os castigos novamente eu recebesse.

Mas um único talvez eu não quisesse
Nunca mais cometê-lo novamente,
Parar de estudar.......é indecente,
Este eu consertaria se pudesse.

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Francisco Egídio Aires Campos
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                     O  Lavradeiro.
              [cavalo selvagem de Roraima]

                                  I

És livre filho do lavrado , e habitas,
na  vastidão  dos  prados  naturais,
sem limites ou fronteiras, onde jamais
nada além do horizonte ao longe fitas.

Não  caem  sobre  ti  tristes  desditas,
quais  caiçaras,  cancelas ou açoites,
não marcam-te a ferros, e as tuas noites
são estreladas, calmas  e  tão  bonitas.

Não  vives  em  currais,  e  nem  atritas,
teus lindos pelos, a selas, cilhas , arreios;
não tens cabrestos ,rédeas, estribos, freios,

que te firam o palato, e livre orbitas,
como os corpos celestes, em seus volteios,
livres no espaço, em viagens infinitas.

                            II

Teus ancestrais vieram de além-mares,
junto a desbravadores aventureiros,
que traçando no oceano seus roteiros,
vinham em busca de sonhos invulgares.

De cidades de ouro, onde os altares, 
em sangue humano eram sempre lavados,
dos inimigos de guerra, ou condenados,
sacrificados a Deuses milenares........ 

fostes trazido assim para outros ares,
para estas terras amplas e bravias,
onde léguas sem fim tu percorrias,

que só decuplicavam-te os penares,
no forçado trabalho que te impunham,
no  não  poderes  livre  cavalgares.
 
 
 

                          III

Só  a  morte  cruel  te  libertava,
do teu estado de penúria e medo,
ou tirado-te a vida muito cedo,
ou ceifando a quem te cavalgava.

Quando a morte assim te alforriava,
do  julgo  do  ginete  encouraçado,
com elmo, adaga e lança, tão pesado,
então livre, nos prados galopavas.

Da herança maldita que levavas,
só  com  o  tempo  te  libertarias, 
eram os  arreios, e  tu os levarias,

pela vida das cilhas, ou te ficavas,
com eles pelo resto dos  teus  dias,
só com a morte por fim te libertavas.
 

                           IV
Aos teus filhos porém, o teu legado,
era  algo  sem  preço;  a  liberdade;
se  para  ti  chegara  pouca e  tarde,
era  para  eles  um  bem  assegurado.

Na imensidão dos prados do lavrado,
tu nasces livre, e livre levas a vida,
não  tens  a  liberdade  mas  tolhida,
galopas com os ventos o verde prado.

És livre , lindo, e tens assegurado,
por  direito  estas  verdes  pradarias,
por onde em outros séculos já corrias,

por em Roraima chama-las de lavrado,
para o povo “Lavradeiro” serias,
e por tal nome serás perpetuado.
 

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MEU CAIMBÉ .
 

Quando comprei o terreno 
onde habito com a família .
lá crescia a revelia 
um arbusto inda pequeno ;
com folhas de um verde ameno ,
tremendo ao vento , fagueiro .
Tinha o caule retorcido ,
eu o achei parecido 
a um jovem cajueiro .
 

2
O que me falou primeiro 
a mulher que nos vendeu ,
foi pedindo pra que eu 
só lhe passasse o dinheiro ,
se jurasse prazenteiro ,
que jamais o cortaria ;
que o deixaria viver ,
 sem nunca me arrepender 
da promessa que faria .

 3
Sem saber porque queria 
a qualquer custo salva - La ,
não ousei interroga - La
do motivo que a movia .
Como achei que não havia 
mal algum no juramento ,
prometi deixa - La em paz ,
 e ela não deu - me jamais 
azo prá arrependimento .


Não percebi no momento , 
o bem maior que comprava ,
que a pequena árvore estava 
no lugar que era seu ,
que o intruso era eu ,
que a terra lhe pertencia ,
na vastidão do lavrado 
antes de ser habitado ,
solitária já vivia .

5
Nem o seu nome eu sabia ,
tal a minha ignorância ;
daí minha relutância
em conservar no terreno 
um arbusto tão pequeno ,
tão retorcido , tão bruto ,
que ocupava o lugar
onde eu podia plantar 
uma Árvore que desse fruto .

6
Os anos foram passando ,
ela se desenvolveu ,
e a medida que cresceu
com ela cresceu em mim ,
todo este amor que por fim 
mudou meu modo de ver ,
e digo com alegria
que hoje a vida daria
p’ro meu caimbé viver .

7
O desejo que alimento ,
é que quando eu for levado 
e o deixar por legado ,
 a quem o tocar por sorte ,
apesar da minha morte 
respeite a jura que eu disse ,
de não corta - lo jamais ,
e o deixem morrer na mais 
ditosa e calma velhice .
 

8
Olhem - No como se vissem 
minha continuação ,
dando - Lhe toda atenção
que a mim talvez dariam .
e o que a mim não fariam , 
não façam a ele também ,
deixem - No viver tranqüilo
gozando um pouco daquilo 
que  lhe pertence por bem.

 

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Francisco Egídio Aires Campos
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CADÊ?

 Cadê os povos que haviam 
espraiados nestas terras?
cadê os povos das serras
 e os povos das pradarias?
......e as aves das cercanias 
que alegravam as malocas?
......e o canto das piaçocas?
.... e o alarido das araras? 
....... e o grito das iraras 
em igarapés e banhados?
...e os bandos de veados 
que nos lavrados corriam?
...e as onças que viviam 
nas encostas das montanhas?
.......e os bandos de ariranhas 
brincando nos igarapés?
...onde estão os jacarés 
que povoavam suas águas?
onde canta suas mágoas 
a macucaua que chora?
pôr onde andarão agora 
os caititus e queixadas?
e as onças pardas e pintadas 
que povoavam as florestas.....
.....já erradicadas destas, 
por onde andarão agora? 

Onde será que hoje mora 
o macaco coatá?
...e o tímido jupará?
... e o esquivo juruparí?
...e o esperto coatí 
que quase não se vê mais?
onde estão os animais 
que povoavam estas terras,
que pululavam nas serras, 
nos lavrados e nas chapadas,
nos rios e águas paradas, 
que moravam nas ramagens,
que planavam nas aragens, 
que cantavam a toda hora
e que multicoloridas 
enchiam as matas de vida ,
...por onde andarão agora?

 

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Subject: 
        Ôme, seu minino, nun dexe de lê isso pelo amô de meu Padim Pade Ciço ! [arranje um tempim.]
   Date: 
        Sun, 6 Aug 2000 16:56:38 -0300
   From: 
        "Francisco Egidio Aires Campos" <megidio@amazon.com.br>
     To: 
        <jpoesia@secrel.com.br>
 
 
 

                               

                              Amigo Feitoza, nos últimos oito meses compus bem mais de cem poemas que
                              denominei ´´poemas pós fuga.``  este é um deles.  Gostaria muito de divulga-lo. quebra
                              essa?? 

                                                        teu Eterno benquerente; Egidio.

                              NATURA

                              1

                              Eu Sou a mãe caótica, o Demiurgo,

                              Criadora de tudo, tudo hei feito,

                              A imensidade eterna do meu feito,

                              É explosão, implosão, sorver, expurgo,

                              Organizo e desfaço a urbe, o burgo,

                              E a metrópole superpovoada........

                              E na paisagem heróica descarpada

                              Organizo os rochedos do meu jeito.

                              2

                              Sopro as nuvens a vagar no firmamento,

                              com canícula cruel aqueço as rochas

                              num calor ígneo de milhões de tochas 

                              e após esfrio-as, a rocio, chuva ou vento,

                              provocando-lhes o estilhaçamento

                              que modifica a face das montanhas.....

                              e no imo da terra, em suas entranhas

                              fundo ao Meu bel-prazer metais e rochas.

                              3

                              neste mundo caótico, onde ao atrito

                              das tectônicas placas calor gero,

                              e onde o tempo inexiste, eterna espero,

                              acumulando a força do meu grito,

                              que com clangor emergirá aflito

                              junto ao nascer caótico de um mundo

                              que surgirá do meu gestar profundo

                              junto a telúrica força que libero.

                              4

                              a amorfa lava fundente ao mar Resfrio,

                              em escaldantes nuvens vaporosas subo

                              e em nimbosas cinzas a tudo cubro,

                              e a tepidez brumosa lembra o frio

                              e as novas rochas a proa de um navio

                              que em nórdica paisagem errante vaga,

                              mergulha e emerge de imensa vaga

                              onde ardilosamente o exponho e encubro.

                              5

                              a insólita ilha, negra e fumegante,

                              resfriarei ao decorrer das eras, 

                              e úmidificando o húmus das crateras

                              farei surgir a vida verdejante,

                              e ante o ETERNO, no ápice de um instante

                              a vida surgirá variegada

                              e explodirá como a surgir do nada

                              e inundará a ilha, palpitante........

                              6

                              Minha força telúrica inascida,

                              Não posso rotular de má ou boa,

                              Pois se um dia ela ativa o Krakatoa

                              Destruindo de forma inconcebida,

                              Normal e continuamente explode em vida

                              Em todos os quadrantes e hemisférios

                              Prodigalizando a força dos mistérios

                              Tornando seu arcanos coisas - atoas.

                              7

                              ao hálito das Minhas ventas, Herculano

                              protegida de Zeus, de Ares e Réia,

                              teve o mesmo destino de Pompéia,

                              pois ao velho Vesúvio despertando

                              a ambas soterrei, ...... e as soterrando

                              em pó e cinzas pela eternidade,

                              as conservei para a eternidade

                              e ainda hoje há gente as visitando.

                              8

                              nos confins do espaço onde EXISTO

                              como buracos negros que consomem

                              universos e galáxias que se somem

                              em vertiginosos vórtices jamais vistos,

                              onde consumo a luz, igual aos quistos

                              cancerosos a consumir matérias

                              e aos cancros constantes da miséria

                              que emergem da vida e sugam o homem.

                              9

                              EU provoco o choque de planetas,

                              Gero a força que cria os turbilhões,

                              Movo um dedo e provoco furacões,

                              Sou os gases da cauda dos cometas,

                              Fui o eco das bocas das trombetas,

                              Que vibrando tombaram Jericó....

                              Sou a força da vara de Jacó,

                              E o terror do urro dos leões.

                              10

                              Sou o protozoário plasmodium das sezões,

                              ......................Sou a febre maligna terçã,

                              .................Sou a bela feiúra de uma anã

                              e o orgulho contido nos brasões........

                              sou a calma do meio dos furacões

                              e o terror das calmarias no oceano,

                              a maldade bondosa do cigano

                              e toda a força crística de satã.

                              11

                              Sou a mãe que engendra a natureza,

                              O amor maternal é Minha marca,

                              SOU de tudo que existe a matriarca,

                              Que retenha a feiúra ou a beleza,

                              A nobreza congênita, ou a vileza,

                              O maligno instinto... cruel ou manso,

                              O agitado bem ou o mau descanso,

                              O saber de Tirésias e de Petrarca.

                              12

                              Sou a imponência inata do monarca,

                              A aparência humilde de um gusano,

                              A arrogância cruel de vil tirano, 

                              A brisa mansa que impele a barca

                              E a fulminante força, que da arca

                              Fulminava o impuro que a tocasse...

                              E a vara que se möshe levantasse

                              Abriria as águas do oceano.

                               

                              13

                              Sou a força telúrica dos dilúvios,

                              Sou o Dom de Noé e Gilgamés,

                              sou a cesta de vime de moisés

                              e das benesses do inverno os Eflúvios.

                              Dirijo com Meu sopro os ´´nimbus pluvius``

                              Os despejando onde necessários,

                              E vibro vendo a vida em verdes vários,

                              Viril, varando as plantas dos Meus pés.

                              14

                              e Explodo, vida, em vales verdejantes 

                              e Ondulo, brisa, o ouro dos trigais,

                              e Corvo, ataco o Dom dos milharais,

                              e Gafanhotos, turvo o horizontes....

                              Sou EU, nuvens de fome, e em instantes

                              Devoro tudo até o rés do solo,

                              E aos gafanhotos, como Fome, imolo

                              Em oblação expiatória a tudo o mais.

                              15

                              Sou Seregheti, Okavongo, vida...

                              Sou a explosão genial da fertilidade

                              E a Implosão da vida, que mais tarde

                              Desnudará ao sol a África exaurida..

                              Sou a terra rachada e ressequida,

                              O onésimo ano, o caos previsto,

                              Sou o Nilo, a benção do Egito

                              E o Saara, a mãe da humanidade.

                              16

                              Sou milhões de gnús que crescem e invadem

                              A delta fértil da foz do Okavongo,

                              Sou a cratera incrível do Ngorongongo

                              Onde a vida é perene e equilibrada... 

                              Sou o leviatã que em Massai – mara nada

                              E dizima as manadas que o vadeiam,

                              Sou a chama dos fogos que incendeiam

                              A seu tempo, a Tanzânia, o Kenya, o Congo.

                              17

                              Sou o instinto cruel do leão selvagem

                              que caça e elimina as crias do guepardo,

                              a Habilidade arborícola do leopardo 

                              e as Forças descomunais que interagem

                              e o permitem ao alto das ramagens

                              levar a enorme vítima que o sustenta,

                              Sou a força vital que o alimenta

                              e a Morte cruel que nunca tardo.

                              18

                              ............Eu capturo a cria da gazela

                              e com ela treino a minha jovem cria,

                              Eu caço a noite tanto quanto ao dia,

                              E fujo aos predadores como ela...

                              Eu sou a feia hiena e a leoa bela,

                              O belo orix, o ocapi estranho,

                              A alma coletiva do rebanho

                              E o frio sangue da constritor fria.

                               

                              19

                              Dos elefantes a solidariedade,

                              Dos grandes corpanzis a estrutura,

                              as cascas, as raízes, as verduras

                              que os alimenta à saciedade,

                              e também sem resquícios de maldade

                              Sou a seca cruel que os elimina,

                              Sou o vento solar que a dissemina

                              numa aura cruenta de securas.

                              20

                              Eu Sou a força Búdica de Sidharta,

                              E a insana reação de shudodhana,

                              O veneno dos peitos de Puthãna

                              E a força de sucção que em Krishna à mata....

                              Sou o tigre caçando, que retrata

                              A quem o encontra a morte crua e certa,

                              Sou a seta sibilante que acerta

                              O gélido coração de Duriodhana.

                              21

                              Sou os monges febris que o Buda segue

                              Antes que minha mente o iluminasse,

                              Sou a fome cruel, que onde chegasse,

                              O esperava, e a sede que o persegue...

                              Sou a meta que sonha, e não consegue

                              Deslindar de uma forma inteligente,

                              Sou o morto, O senil e o Doente,

                              E o olhar com que fiz que me avistasse.

                              22

                              Sou de Maomé a ignorância nata

                              Desprovida de estudos e saberes,

                              Fui Eu que o coloquei entre outros seres

                              Luminosos, qual Cristo, qual Sidharta..

                              Transformei sua mente em mesa farta

                              Nas ciências de Deus, O iluminando

                              Numa Luz que ainda vem brilhando

                              Com orações, salvares e prazeres.

                              23

                              ..........Gavial, arrebato uma criança,

                              E também Sou o Ganga que o abriga,

                              Sou o labor incessante da formiga,

                              Sou o terror marabuta que avança,

                              Sou o mal que antecede a bonança,

                              Crocodilo do Nilo, terror gero....

                              Epidemia que grasso onde quero,

                              Espada traiçoeira e mão amiga.

                              24

                              Sou o anjo contendor de Israel,

                              Esmaguei-lhe o nervo do quadril,

                              Sou Giulliano, Lampião, Quantril

                              E o amargo sabor que vem do fel...

                              Sou geleia real, Sou hidromel,

                              Sou bebida de deuses, Sou cicuta...

                              Sou as virgens vestais, sou prostituta,

                              E arquiteto da torre de Babel.

                               

                              25

                              La nos santo dos santos Eu gerei

                              Por estupro, de forma violenta,

                              Quem, segundo os cristãos, agora senta

                              Ao meu lado direito, e Eu nem sei,

                              No calor do deserto eu o tentei,

                              Ele foi divertido e até ousado,

                              Eu Por isso morri crucificado

                              Mas à quatorze horas levantei.

                              26

                              Sou a massa total dos oceanos,

                              Sou a vida que neles prolifera,

                              Sou a fauce cruel da besta fera

                              E a feiura intrigante dos varanos,

                              E os corais que por milhares de anos

                              Se agregam em arrecifes e atóis,

                              Sou o peixe abissal, com luz e anzóis

                              Que vive em altas pressões e lá prospera.

                              27

                              Sou a orca que caça,...e a caravela,

                              Fogo liquido, translúcido e inocente,

                              O veneno maligno das serpentes

                              E a siba de cores cambiantes,

                              Sou a sede cruel dos navegantes 

                              Que naufragam em meio ao mar bravio,

                              Sou o vento cortante, sou o frio

                              Que enregela o seu corpo de repente.

                              28

                              Sou o sol que aquece o indigente,

                              Sou a palavra amiga que o consola,

                              Sou a mão que sonega sua esmola

                              e que impede-lhe o sono nos batentes,

                              que o infesta de pústulas aderentes,

                              que lhe põe um mal cheiro nauseabundo,

                              que o transforma em um verme vagabundo

                              que a vílissima vida destiola.

                              29

                              Sou o fomentador das guerras santas,

                              Eu invento as armas tenebrosas,

                              E nas campinas onde Crio as rosas

                              Semeio a podridão de mortes tantas,

                              E as decomponho, em tais, e quais, e quantas

                              Formas que Me aprouverem e derem gozo,

                              Pois quanto mais ali Sou Êxitoso

                              Serão as Minhas graças mais famosas.

                              30

                              e as minas, Eu as enterro e abandono,

                              aos milhares e milhões ali as deixo

                              no megalomaníaco desleixo

                              de quem pode criar, e vai criando,

                              e prevendo o caos que vai gerando

                              multiplica o numero de aleijados

                              que famélicos vão desesperados

                              rodas vivas, girarem em frágil eixo.

                               

                              31

                              Sou os cadáveres vivos da Etiópia,

                              As crianças emaciadas pela fome,

                              A pele garça, a carne que se some

                              Da múmia faraônica Sou a cópia.....

                              ... e das pestes que grassam , a cornucópia,

                              assim como a indiferença dos omissos,

                              Sou a quebra informal dos compromissos

                              Sou a própria miséria que os consome.

                              32

                              Sou a força total do gênio humano,

                              Meta última de todo sacrifício,

                              Sou corrupto juiz do santo oficio

                              Que de modo cruel, vil e profano

                              Condena a cruel sina Giordano,

                              E queima a milhares de outros mais

                              Se apossando dos bens materiais 

                              E ampliando seu dote pontifício.

                              33

                              O que Sou, Sou...e isto não é pouco;

                              ...Sou a ausência eterna e infinita,

                              ...Sou o olho imortal que tudo fita,

                              ....do grande terremoto o rouco,

                              a genialidade latente do homem louco,

                              a lamúria tristonha da tormenta,

                              o assobio das frestas quando venta,

                              Sou a chuva que a nuvem precipita.

                              34

                              Sou o anuro, o réptil, o anelídeo

                              O celenterado que no húmus vive,

                              O necrófago que da morte sobrevive,

                              E a pele descartada do ofídio...

                              Sou o muro de pedra do presídio,

                              O horizonte sem fim da liberdade,

                              A virtude anormal da castidade,

                              E o aclive contido no declive.

                              35

                              Sou as massas polares e o granizo,

                              O núcleo do planeta, incandescente,

                              Sou o grande caudal, e a nascente,

                              O lucro material e o prejuízo,

                              A inteligência e a falta de juízo,

                              A força, a fortuna e a saúde

                              A fraqueza, a doença, o ataúde,

                              ...bala perdida que mata o inocente.

                              36

                              Sou o cedro do Líbano, e a urtiga

                              A planta medicinal e a venenosa,

                              O odor da carniça, o olor da rosa

                              Sou a cruel verdade e doce intriga

                              A doçura da paz, o ardor da briga

                              Sou a ânsia de água do sulfúrico

                              Sou a origem do poder telúrico

                              Sou a musa da música, verso e prosa.

                               

                              37

                              Da Amazônia Sou a exuberância,

                              E sua variedade fitogênica

                              Planta medicinal, e praga endêmica,

                              Chuva que se derrama com constância,

                              A vida variada, a abundância,

                              A sucuri, as cabas, as aranhas

                              O famélico cardume de piranhas

                              A força da enchente, a queimada blasfêmica. 

                              38

                              do preguiça Eu sou a lerda calma,

                              Sou a veloz ansiedade da irara,

                              A beleza feroz da pirarara,

                              Do tímido jupará Eu sou a alma.....

                              Sou raízes, folha, caule e palma,

                              Lianas, parasitas, flores , frutos,

                              Os ferozes felinos, os monos astutos,

                              A gramínea comum, a orquídea rara . 

                              39

                              Eu sou o boto rosa e o tucuxi,

                              O estranho matámatá e a perema,

                              As raízes laminares da sapopema,

                              A astúcia sagaz do coatí,

                              O singelo cantar do bem-te-vi, 

                              O som peculiar do uirapuru,

                              Sou a batina negra do urubu

                              E o soro antiofídico da seriema.

                              40

                              Como botrópico, laquésico e elapídico,

                              Sou a letal peçonha das serpentes,

                              Da saracura Sou os sons plangentes,

                              Sou da coruja o cantar fatídico...

                              Do equilíbrio da vida o ponto crítico,

                              Sou o futuro Saara sob a mata,

                              Sou o ser ignóbil que me mata

                              Destruído-me os corpos e as sementes.

                              41

                              Sou a névoa matinal que se evola

                              Das florestas, e o frio que a condensa

                              Sou a sombra milenar da mata densa,

                              E o machado do homem que a imola,

                              Sou o tronco que sobre o rio rola,

                              Sou a serra e a plaina que o destricham,

                              Sou o guindaste que as tábuas guincham,

                              Sou o cargueiro, o braçal e o que pensa.

                              42

                              Sou o vento terral que cedo sopra,

                              E o vento mareal que a tarde o inverte,

                              E muda de lugar a duna inerte,

                              Sou a água de coco, Sou a copra...

                              Sou o trôpego tropel de toda tropa,

                              Sou as fontes termais e sulfurosas,

                              Sou os espinhos que guarnecem as rosas

                              E a anarquia que à ordem subverte.

                               

                              43

                              Em Mim está contido o inexistente,

                              E o existente também está contido, 

                              Sou a fonte do achado e do perdido

                              Ó mundo em evolução e o decadente.

                              Eu sou o refluir e a força fluente

                              Que impele a enorme vaga destrutiva,

                              Eu sou a enorme e inerme massa viva

                              E englobo tudo, que exista ou haja havido.

                              44

                              um simples grão de pó sou Eu......

                              e também a estrela mais fulgente,

                              e o maior corpo sólido existente,

                              e o sol que exaurido feneceu...

                              o arco – Íris que se esvaeceu,

                              o bólido errante que no espaço vaga,

                              a chama de uma vela que se apaga,

                              o elo forte e o fraco da corrente.

                              45

                              Sou a vanalidade das palavras atoas,

                              Ditas, escritas, ou imaginadas,

                              Que a coisas vivas ou inanimadas

                              Poderes inusitados, ou forças boas..

                              ..ou negras...atam a Mim em tom de loas

                              como se Eu fosse algo descritível,

                              tentam realizar o impossível...

                              pintar o Todo em simples pinceladas.

                              46

                              Eu sou dos sons a variedade imensa,

                              E do silêncio a voz inusitada 

                              E tal qual sou o tudo, sou o nada

                              Sou o sumo prazer, e a dor intensa

                              O castigo cruel a e recompensa,

                              A pura inteligência, a ignorância,

                              A exata coerência e a discrepância

                              A injustiça e a lei aplicada.

                              47

                              Eu sou o inimaginável ! 

                              Eu sou o inconcebível !

                              Eu sou o imperecível !

                              Eu sou o inominável !

                              Eu sou o impalpável !

                              Inimitável Eu sou !
                              Também oniparente
                              Total e onipresente...
                              ...Só Eu sou o que Sou !

                              BELÉM, 30-05-2000
 
 
 
 

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