Soares Feitosa

A Poesia do Engenheiro
  
            Germano Rocha nos dá agora o seu segundo livro de poemas, Estalactites do Silêncio. O primeiro, Devaneios, era um livro artesanal, bem cuidado, de circulação restrita, para poucos. 

            O poema Carro de Boi, é de uma força incrível, "pior" do que uma fotografia de Sebastião Salgado, dos campos da fome. É poesia social da melhor. Inquietante. Pior, o nosso retrato. Secular. Até quando?  

            Página seguinte, lado a lado, o Cor de Rosa, é um poema visual , não como expressão de grafismo, concretista que fosse, mas visual na força de nos passar com palavras uma imagem foto. A façanha é precisamente esta: palavras igual a imagem! 

            Constato uma bela evolução na poética de Germano Rocha. Agora mais contido, mais social, menos "eu" (nada contra os poetas do "eu"... sou do fã-clube de Augusto dos Anjos, o chefe deles todos... e viva Augusto dos Anjos!). 

            Augusta é outro momento alto do livro. O poeta nos passa, em Augusta, a sensação estranha do "sofro lentamente por saber só minha", quando a maioria, do famoso clube do cotovelo, sofre por saber que o ente amado é de outrem. Só os poetas! É um final deslumbrante. 

            Finalmente, o Corpos, e sua carga de símbolos e de sortilégios. "Corpos molhados / dependurados na solidão / do tempo // nada continua // na contraluz do olhar / o céu cai nos lençóis / brancos." É um dos melhores de todo o livro. 

            Em suma: uma bela poesia a do engenheiro Germano Rocha. Engenheiro? E por que não? Joaquim Cardozo também era muito de cálculos. Poetas!

 
                                                                          

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 Página editada  por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  03  de  Junho  de  1998