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  A canja
de galinha do padre cheirava deliciosa, 
 O senhor deve
ser o poeta, 
 E foi festão: 
 Conversamos e
conversamos: 
 Conversamos e conversamos: Estética,  
 E Mirian,  
 Conversamos e conversamos: O vinho do Porto
regava as palavras, 
 
 chame seu amigo. Deixesfriar!  ele disse. Este Porto tem mais de 30 anos, disse o padre-poeta. Bote outra, padre! Lá no Brennand, também, umas garrafas, lá, do Porto, ele abriu uma para o Jorge Amado, o resto eu bebi, padre, no poema do Cachorro! Conversamos e conversamos: teorias, muitas teorias... Teoria da Intimidade: 
   Trabalhando? 
   Onde,
poeta, perguntava. 
 
 sem pessoas, sem músicas, sem interesses, nem Mirian pode... ao banho, talvez, caçoando os cabelos, entregue à água... É um dos Elementos... e outros pensamentos que não são bem pensamentos imagens talvez, os posicionais da vida... borbulham, padre, levemente, aí você percebe o Eu, a Intimidade!  Está insossa esta canja, poeta, bote limão.  Prefiro pimenta, Dulce, por favor.   Não
tem, não tem molho aqui,  
 E então lembrei outras pimentas: 
 que seguia viagem Ibiapina, Serra Grande, fizera mais outro bicho, mais outro e mais outro; as crianças do ônibus eram alegria, todos do ônibus eram alegria, meu caderno acabou-se em tantos bichos... E aí pedi: escreva meu nome. E uma rápida tabuletinha, cheia de furos, um rapidíssimo estilete, sovela de corações: crec, crec, croc: está pronto... ela disse. Aí eu disse: é um autógrafo; ela disse: se eu soubessse, tinha feito o meu. Pois faça. Crec, crec, croc... está pronto, disse: Ana Lúcia! Apalpei o papel
e não vi nada, compadre; 
   O A
é feito com dois pontinhos? 
 Leia:  
 
 E os bichinhos dobrados, dobraduras, diabruras, saltavam de suas mãos.  Faço qualquer coisa, ela dizia.  Pois faça-eu, insultei.  Ainda não dá: você, por enquanto, é apenas, apenas uma voz, figuras de voz também sei fazer... apenas, apenas no coração... Para fazer o seu rosto, terei de apalpar...  ela disse. 
 Falou o poeta, o Mourão]. [Passe a mão, Compadre Disse a Raposa, a Comadre]. ficaria muito bonito... a voz, a voz já é... gravei... a voz... gravei... bonita! Percebi, compadre, naquele instante, as luzes do crepúsculo de minha terra já eram quase vermelhas... Vermelhas também foram as pimentas da sopa do padre, colhidas pela Dulce à janela... que vermelhas se faziam naquele instante, as faces da jovem; vermelhos também, os seus olhos, brilhantes, ali, tenho certeza, compadre, enxergavam! Vermelhas também, meu compadre, quando senti o rubor, como se fora às caieiras, baixios do Rio do Governo, (lá, naquele tempo) tijolo e telha, na noite, queimando, polmando fumaça, as nuvens rubras, de céu cinzento, fumeiro, cinza, cachaça; pois assim foram as minhas faces, assim. Também vermelhos, meu compadre, foram meus olhos, naquele instante, tenho certeza, ficaram cegos, totalmente cegos, irremediavelmente cegos. Ficaram. Fortaleza/Recife, tarde de 11/06/94  | 
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| Colofão:  
 Este poema foi composto entre um pavoroso acidente, fato real, sem nenhum ferimento, km 110, BR 222, a meio caminho de Sobral, CE., dia 10.06.94, e o embarque, de retorno para o Recife, Aeroporto Pinto Martins, Fortaleza, CE., dia 11.06.94. Foi passado direto para o computador e o papel, na manhã de12.06.94, em Recife, PE. Notas: 
 2. Ado - personagem do anúncio popular publicado no Diário de Pernambuco em busca da moça da Poltrona F-6. 3. cavalo-de-pau - poema Ajunt-Hotel, deste autor. 4. jumento Meia-Noite - poema Format Cê Dois Pontos, do autor. 5. carro-santo - bromeliácea, rasteira, botões vermelhos, produz umas bolotas com as quais os meninos faziam rodas-de-carro, muito abundante às ruas de Monsenhor Tabosa. 6. Schiller: Ode à Alegria, coral da Nona Sinfonia, Beethoven. 7. Irauçuba: município à margem da rodovia Fortaleza-Sobral; calor escaldante, grandes paredões de granito, paisagem desolada. 8.apalpa, meu amor - Gerardo
Mello Mourão: País dos Mourões, Primeiro Poema, Iam
caindo à esquerda e à direita.  
 10 só os cegos enxergam: O Domador, deste autor.  |