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[Porque,
amor, o amor é de abismos.
SF]
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Ah, esses cavalos modernos,
só tropel e pó, já num fôlego contra a montanha. |
Como se fosse o mar,
e o mar defronte, profundos,
os olhos navegavam — pra onde?
Eram de ir, eram de vir?
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Porque, amor, o amor é de abismos. |
Ah, o mar, de explodir nas pedras, |
Vontade e desencontro:
Foi por ali, ela teria dobrado? Voltaria? |
Por que não me disseste logo:
amor, aqui não, neste alpendre tosco, os passantes, essas pessoas que nada; vamos, vem, vamos, às maresias, lá me contaram, duns passarinhos, sempre o mar, saltitam a areia... eles são de ir, seriam de vir, de tão branquinhos? |
Disparou:
Um relincho súbito,
seria o coche da rainha
voltando e os arautos
seriam de ir, seriam de vir,
aonde foram?
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Não, não era ninguém! |
É muito simples:
o desamor não tem disfarces.
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É muito simples:
uma moto rapidíssima, a moto, uma firmeza de flecha e aço, as manoplas frementes, os joelhos em transe; ah, essas motos modernas, como gostaria de apalpá-las!, de uns fios negros, mais uns de ouro; outros, sanguíneos; na curva, tudo!, uma inclinação bem funda, vruuuummmmmm, (a recusa!) engolfando o horizonte. |
a ti, inteiro, todo o meu naufrágio. |
Fortaleza, madrugada alta, 13.10.1997 |
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