Fernanda Lohn Ramos
Verdades
Na verdade
Eu esperava tudo diferente
Tudo organizado,
Calculado,
Só esperando eu vir
E assumir meu posto de
Fernanda.
Que engraçado,
Esqueceram de mim.
Não prepararam nada
Além de berços, fraldas
Não foi assim que pensei
Eu queria tudo diferente,
Tudo na minha frente,
Para quando,
De repente,
Eu precisar,
Eu só me esticar,
E bem pouco por sinal.
Eu até que consegui aprender
A fazer algumas coisas,
Já era a flor de maracujá
mais linda do meu pomar.
Já tinha tudo e todos,
Já havia cativado meio mundo.
E como num sopro mágico
Tudo foi embora,
E eu fiquei ali sozinha,
Naquele cantinho
Brincando de matinho,
Sem saber para onde ir,
Sem nem saber partir.
Uma lágrima rolou daquele rostinho
desajeitado,
Meio que inconformado
E aquele cabelinho loiro
Foi-se numa única tesourada,
E todo aquele ar de princesa desabitava meu ser.
E comecei a perceber
Que aquilo que todos
Falavam que era a vida
Era realmente verdade,
Essa tal de vida
Era a coisa mais injusta
Que tivera me acontecido naquela
Época,
Eu não tive em quem me apoiar
Em quem debruçar,
E nem pude sequer chorar.
Não, eu não choro!
E todas essas lágrimas foram sendo
Depositadas
Neste vão momento da minha vida,
Neste calabouço sem fim.
E todas lá agrupadas,
Esperando a hora certa para me torturarem
Acho que estão começando
A fazer o que tanto prometiam
Durante todo esse tempo
Guardadas, trancafiadas
Dentro do meu eu.
Minha vida já se tornou um nada,
E elas nem assim me confortaram,
Nem quiseram aparecer
E todos continuavam
Aquilo que chamamos de vida
Aquilo sim, pois não considero
Vida aquilo que só me parece tristeza.
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *