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Responsável:
Soares Feitosa Endereço |
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Resenha, ensaio, crítica
e entrevista:
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Meu caro poetaCorrespondência com Drummonde Bandeira esclarece a formação poética de João Cabral [in
Revista Veja,
Edição 1 689 - 28/02/2001] Quando concluiu seu primeiro livro, Pedra do Sono, em 1942, o poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto enviou-o a Mário de Andrade, à época já um medalhão da vida intelectual brasileira. Não recebeu resposta alguma. Considerando-se a generosidade do autor de Macunaíma com os mais novos e sua prolífica produção epistolar, João Cabral tinha motivos de sobra para ficar magoado e desanimar. Por sorte, não lhe faltaram mentores de primeiríssimo time. Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, os nomes-chave da poesia modernista no Brasil, souberam reconhecer o valor daqueles poemas e foram referências em sua formação. Durante as décadas de 40 e 50, Cabral correspondeu-se com eles. As cartas, reunidas pela pesquisadora Flora Süssekind no volume Correspondência de Cabral com Bandeira e Drummond (Nova Fronteira; 320 páginas; 32 reais), que chega às livrarias no dia 5 de março, são uma oportunidade inédita de acompanhar o processo formativo de Cabral e de entender o papel desempenhado por Bandeira e Drummond nesse período. A afinidade mais imediata se dá com Drummond. Foi por causa dele que Cabral decidiu tornar-se poeta. A leitura de Brejo das Almas, um dos primeiros livros do mineiro, trouxe para ele o elemento que seria o ponto de partida para sua poesia: a dicção áspera, despida da oratória eloqüente típica da poesia clássica e que tanto o irritava. Nas cartas, ele chama Drummond de mestre, pergunta se um dia aprenderá "aquela linguagem de seu livro", confessa que ele é o único a quem tem sentido vontade de escrever. O poeta mineiro, por sua vez, incentiva a publicação de Pedra do Sono. "Escrever para si mesmo é narcisismo, ou medo disfarçado em timidez", aconselha Drummond com precisão cirúrgica, numa carta de janeiro de 1942. Desde o início ele elogia "as associações de coisas e estado de espírito que excedem a lógica rotineira" da poesia cabralina. A desaceleração do contato entre os dois no início da década de 50 revela, igualmente, o grau de ascendência do mestre sobre o discípulo. Por essa época Drummond fica mais político, metafísico, o que naturalmente acaba afastando Cabral. Mas também é fato que Cabral precisava parar de se medir pelo metro de Drummond e impor sua dicção. Estava num impasse: ou virava um imitador, ou rompia o diálogo. Com Bandeira não havia esse problema. Cabral tenta o primeiro contato em 1942, enviando-lhe seu livro, mas a relação entre os dois só se estabelece em 1947. A essa altura, as cartas mostram que Cabral já sabe muito bem o caminho poético que pretende seguir. Numa carta de 1948, ele reconhece a capacidade de Bandeira de despir seus versos de qualquer efeito "poético", de escrever como se a realidade que ele apresenta não fosse mediada pela linguagem. Mas deixa bem claro que sua lavra é outra: a do apuro formal e do distanciamento crítico. As cartas também revelam um Bandeira que não se enquadra no estereótipo de um poeta consagrado em fim de carreira. Ele se mostra um intelectual curioso e atualizado, que instiga Cabral a conhecer os poetas espanhóis e sabe reconhecer a força de um poema como o O Cão sem Plumas, que Cabral lhe envia em 1950. No
fundo, esse livro de cartas mostra a organicidade da tradição
moderna no Brasil. Cabral tinha plena consciência dos principais
nomes da geração anterior a ele e queria partir daquele ponto
para avançar e construir sua obra. A ida à Espanha é
de importância crucial para essa independência. Lá ele
encontra um ambiente intelectual dinâmico, aproxima-se do surrealismo,
fica amigo do pintor Joan Miró, lê poetas como Jorge Guillén
e García Lorca. A partir desse livro, é possível traçar
os primeiros passos de João Cabral nessa imersão pela cultura
espanhola e acompanhar a construção de um caminho poético
que o colocaria na mesma altura dos antecessores Bandeira e Drummond. Não
foi à toa que Mário de Andrade não o entendeu. João
Cabral era moderno demais para ele.
Mui caro Manuel, Numa fase de pré-operação, operação e pós-operação da cabeça, com tudo que isso implica de medo, medo, medo, impediu-me de lhe agradecer antes o Literatura Hispano-Americana. Estou certo de que v. me desculpará. (...) Ando com muita preguiça e lentidão trabalhando num poema sobre o nosso Capibaribe. A coisa é lenta porque estou tentando cortar com ela muitas amarras com minha passada literatura gagá e torre-de-marfim. Um
grande abraço de seu
Meu caro Carlos, Quando eu estava no Rio, acostumei-me tanto a discutir com v. certos assuntos que não me seria possível deixar de abordá-los. Muitas das coisas que eu lhe diria são coisas que aprendi de você, naquelas nossas conversas, em que eu me encastelava num racionalismo esquemático e radical (que hoje compreendo ser onanista inteiramente). Ora, v. hoje está preocupado por outras coisas, já muito mais adiante, por exemplo: a "quadratura" do verso. E só poderia ficar indiferente às minhas preocupações atuais. De seu João
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Flávio Moura entrevista o fundador do Jornal de Poesia, POESIA NA REDE MUNDIAL Moura
- Há quanto tempo o senhor mantém este jornal de poesia?
Moura
- O site é bastante visitado?
Moura
- Como o senhor definiria poesia virtual?
Moura
- Que diferenças o senhor destacaria entre esse formato e a poesia
tradicional, impressa?
Moura
- Que novas possibilidades de sentidos, significados, enfim, que novas
relações léxicas, sintáticas e semânticas
podem-se criar a partir desse formato?
Moura
- Quem são os principais poetas, com obras de qualidade, do gênero?
Os critérios para avaliar a qualidade de um poema eletrônico
podem ser os mesmos dos empregados para avaliar a poesia impressa?
Moura
- Em que medida o formato se adequa à concepção de
poesia iniciada por Mallarmé e fagocitada, transformada e difundida
pelos nossos concretistas?
Moura
- O senhor acha que o desenvolvimento desse tipo de linguagem (e da literatura
eletrônica em geral) compromete o futuro do formato livro? (sei que
a discussão é um tanto estéril e acaciana, mas há
que se perguntar...)
Moura
- Que técnica é preciso saber para criar poesias animadas
no computador?
Moura
- Como criar um site de poesia eletrônica?
Moura
- O senhor conhece sites interessantes sobre o tema (inclusive sobre teoria
literária)? Quais?
Moura
- Há alguma outra consideração a respeito que o senhor
gostaria de tecer?
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Rica de amores,
Hilda Hilst volta em 77 poemas
in
Jornal da Tarde,
12.06.1999
Sem o erotismo sempre associado a sua obra, a escritora está lançando ‘Do Amor’, o 41.º livro de sua brilhante carreira. Dedica o trabalho ao pai, poeta como ela, e o único homem que diz ter amado na vida Hilda Hilst não está louca. Apenas deixou de representar o papel que alguns acham caber à personalidade da escritora brilhante que ela é. Ante o silêncio do público e a estupefação calada da crítica, ela diz o que pensa sobre sua obra e sobre a vida. Hilda acaba de lançar mais um livro, o 41.º de sua carreira. De poesias. Sobre o amor. Ou melhor: Do Amor. Nele Hilda reúne 77 poemas que tratam de um tema que é a chama onde arde outro tema, mais associado a seu nome ultimamente: o erotismo. O Caderno Rosa de Lori Lamby, livro marcadamente erótico, lançado em 1990, acaba de ganhar adaptação para o teatro. A peça, dirigida por Bete Coelho, tem Iara Jamra como protagonista e estréia quinta-feira. Imortalidade Mas Hilda não gosta de ser lembrada por isso. Sua obra é infinitamente maior.“Todo meu trabalho é um livro só. Ponho muitas máscaras para ser sempre a mesma”. Já na década de 70, o reputado crítico Anatol Rosenfeld a incluía no seleto grupo dos escritores capazes de praticar com competência os três gêneros: poesia lírica, dramaturgia e prosa de ficção. E Leo Gilson Ribeiro exultava: “Hilda é a mais perfeita escritora em língua portuguesa viva. Há vários anos, é a mais abissal e deslumbrante prosa poética do Brasil posterior à genialidade de Guimarães Rosa.” Também atônita ante o silêncio inescrutável que envolve sua obra, Hilda limita-se hoje a dizer o que bem entende. “As pessoas pensam que sou louca. Seria bom ficar louca. Eu esqueceria tudo de vez. Mas acho que ainda não cheguei lá.” Hilda Hilst e sua obra não existem sem esse tema – o da loucura. O pai da escritora, o poeta Apolônio de Almeida Prado Hilst, enlouqueceu aos 36 anos. Do Amor é dedicado a ele. “Meu pai foi o único homem que amei na vida”, diz a escritora. “Foi ele quem me disse que a perfeição é a morte. Não será essa a maior certeza de nossa imortalidade?” Sobre esses e outros temas, Hilda conversou
com o JT. Mas não por muito tempo. Estava com difuculdade
para falar, por causa de uma isquemia, e também um pouco ansiosa:
tinha medo que a entrevista a fizesse perder a novela das seis.
Página inicial de Hilda Hilst |
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flavio.moura@abril.com.br