Alberto Caeiro
 
XVII - No meu Prato
 
 
     No meu prato que mistura de Natureza!
     As minhas irmãs as plantas,
     As companheiras das fontes, as santas
     A quem ninguém reza...

     E cortam-as e vêm à nossa mesa
     E nos hotéis os hóspedes ruidosos,
     Que chegam com correias tendo mantas
     Pedem "Salada", descuidosos...,
     Sem pensar que exigem à Terra-Mãe
     A sua frescura e os seus filhos primeiros,
     As primeiras verdes palavras que ela tem,
     As primeiras cousas vivas e irisantes
     Que Noé viu
     Quando as águas desceram e o cimo dos montes
     Verde e alagado surgiu
     E no ar por onde a pomba apareceu
     O arco-íris se esbateu...

 
 
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