Alberto Caeiro
 
XVIII - Quem me Dera que eu Fosse o Pó da Estrada
 
 
     Quem me dera que eu fosse o pó da estrada
     E que os pés dos pobres me estivessem pisando...

     Quem me dera que eu fosse os rios que correm
     E que as lavadeiras estivessem à minha beira...

     Quem me dera que eu fosse os choupos à margem do rio
     E tivesse só o céu por cima e a água por baixo. . .

     Quem me dera que eu fosse o burro do moleiro
     E que ele me batesse e me estimasse...

     Antes isso que ser o que atravessa a vida
     Olhando para trás de si e tendo pena ...

 
 
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