Alberto Caeiro
 
XXII - Num Dia de Verão
 
 
     Como quem num dia de Verão abre a porta de casa 
     E espreita para o calor dos campos com a cara toda, 
     Às vezes, de repente, bate-me a Natureza de chapa 
     Na cara dos meus sentidos,
     E eu fico confuso, perturbado, querendo perceber 
     Não sei bem como nem o quê...

     Mas quem me mandou a mim querer perceber?  
     Quem me disse que havia que perceber?

     Quando o Verão me passa pela cara
     A mão leve e quente da sua brisa,
     Só tenho que sentir agrado porque é brisa
     Ou que sentir desagrado porque é quente,
     E de qualquer maneira que eu o sinta,
     Assim, porque assim o sinto, é que é meu dever senti-lo...

 
 
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