Alberto Caeiro
 
Pastor do Monte
 
Pastor do monte, tão longe de mim com as tuas ovelhas 
Que felicidade é essa que pareces ter — a tua ou a minha?  
A paz que sinto quando te vejo, pertence-me, ou pertence-te?  
Não, nem a ti nem a mim, pastor.
Pertence só à felicidade e à paz.
Nem tu a tens, porque não sabes que a tens.
Nem eu a tenho, porque sei que a tenho.
Ela é ela só, e cai sobre nós como o sol,
Que te bate nas costas e te aquece, e tu pensas 
noutra cousa indiferentemente,
E me bate na cara e me ofusca. e eu só penso no sol.
 
 
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