Ricardo Reis
O Deus Pã
 
O Deus Pã não morreu, 
Cada campo que mostra 
Aos sorrisos de Apolo 
Os peitos nus de Ceres— 
Cedo ou tarde vereis 
por lá aparecer 
O deus Pã, o imortal. 

Não matou outros deuses 
O triste deus cristão. 
Cristo é um deus a mais, 
Talvez um que faltava. 
Pã continua a ciar 
Os sons da sua flauta 
Aos ouvidos de Ceres 
Recumbente nos campos. 

Os deuses são os mesmos, 
Sempre claros e calmos, 
Cheios de eternidade 
E desprezo por nós, 
Trazendo o dia e a noite 
E as colheitas douradas 
Sem ser para nos dar o dia e a noite e o trigo 
Mas por outro e divino 
Propósito casual. 

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