Ricardo Reis
De Apolo
					De Apolo o carro rodou pra fora
					Da vista.  A poeira que levantara 
					Ficou enchendo de leve névoa 
						o horizonte;
					A flauta calma de Pã, descendo
					Seu tom agudo no ar pausado,
					Deu mais tristezas ao moribundo
							Dia suave.
					Cálida e loura, núbil e triste,
					Tu, mondadeira dos prados quentes, 
					Ficas ouvindo, com os teus passos 
						Mais arrastados,
					A flauta antiga do deus durando
					Com o ar que cresce pra vento leve,
					E sei que pensas na deusa clara
						Nada dos mares,
					E que vão ondas lá muito adentro 
					Do que o teu seio sente cansado 
					Enquanto a flauta sorrindo chora 
						Palidamente.
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