Ricardo Reis


Felizes

Felizes, cujos corpos sob as árvores Jazem na úmida terra, Que nunca mais sofrem o sol, ou sabem Das doenças da lua. Verta Eolo a caverna inteira sobre O orbe esfarrapado, Lance Netuno, em cheias mãos, ao alto As ondas estoirando. Tudo lhe é nada, e o próprio pegureiro Que passa, finda a tarde, Sob a árvore onde jaz quem foi a sombra Imperfeita de um deus, Não sabe que os seus passos vão cobrindo O que podia ser, Se a vida fosse sempre vida, a glória De uma beleza eterna.


* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *