Fernando Pessoa
 
Bóiam farrapos de sombra
 
 
Bóiam farrapos de sombra 
Em torno ao que não sei ser. 
É todo um céu que se escombra 
Sem me o deixar entrever. 

O mistério das alturas 
Desfaz-se em ritmos sem forma 
Nas desregradas negruras 
Com que o ar se treva torna. 

Mas em tudo isto, que faz 
O universo um ser desfeito, 
Guardei, como a minha paz, 
A 'sp'rança, que a dor me traz, 
Apertada contra o peito.  
 

 
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