Fernando Pessoa
 
Entre o sono e sonho,
 
Entre mim e o que em mim
É o quem eu me suponho
Corre um rio sem fim. 

Passou por outras margens,
Diversas mais além,
Naquelas várias viagens
Que todo o rio tem. 

Chegou onde hoje habito
A casa que hoje sou.
Passa, se eu me medito;
Se desperto, passou. 

E quem me sinto e morre
No que me liga a mim
Dorme onde o rio corre —
Esse rio sem fim.
 

 
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