Fernando Pessoa

Aconteceu-me do Alto do Infinito
 
Aconteceu-me do alto do infinito
Esta vida. Através de nevoeiros, 
Do meu próprio ermo ser fumos primeiros, 
Vim ganhando, e través estranhos ritos

De sombra e luz ocasional, e gritos
Vagos ao longe, e assomos passageiros
De saudade incógnita, luzeiros
De divino, este ser fosco e proscrito...

Caiu chuva em passados que fui eu.
Houve planícies de céu baixo e neve
Nalguma cousa de alma do que é meu.

Narrei-me à sombra  e não me achei sentido.
Hoje sei-me o deserto onde Deus teve
Outrora a sua capital de olvido...  
 
 
 

 Remetente : Angela Campanha 
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