AH, COMO INCERTA, na noite  em frente,
 De uma longínqua tasca vizinha
 Uma ária antiga, subitamente,
 Me faz saudade do que as não tinha.
A ária é antiga? É-o a guitarra.
 Da  ária mesma não sei, não sei.
 Sinto a dor-sangue, não vejo a garra.
 Não choro, e sinto que já chorei.
 Qual o passado que me trouxeram?
 Nem meu nem de outro, é só passado:
 Todas as coisas que já morreram
 A mim e a todos, no mundo andado.
 É o tempo, o tempo que leva a vida
 Que chora e choro na noite triste.
 É a mágoa, a queixa mal definida
 De quanto existe, só porque existe.
  
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