| 
 Assim, sem nada feito e o por fazer
 Mal pensado, ou sonhado sem pensar,
 Vejo os meus dias nulos decorrer,
 E o cansaço de nada me aumentar.
 Perdura, sim, como uma mocidade
 Que a si mesma se sobrevive, a esperança,
 Mas a mesma esperança o tédio invade,
 E a mesma falsa mocidade cansa.
 Tênue passar das horas sem proveito,
 Leve correr dos dias sem ação,
 Como a quem com saúde jaz no leito
 Ou quem sempre se atrasa sem razão.
 Vadio sem andar, meu ser inerte
 Contempla-me, que esqueço de querer,
 E a tarde exterior seu tédio verte
 Sobre quem nada fez e nada quere.
 Inútil vida, posta a um canto e ida
 Sem que alguém nela fosse, nau sem mar,
 Obra solentemente por ser lida,
 Ah, deixem-se sonhar sem esperar!
  
    |