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 Às vezes entre a tormenta,
 quando já umedeceu,
 raia uma nesga no céu,
 com que a alma se alimenta.
 E às vezes entre o torpor
 que não é tormenta da alma,
 raia uma espécie de calma
 que não conhece o langor.
 E, quer num quer noutro caso,
 como o mal feito está feito,
 restam os versos que deito,
 vinho no copo do acaso.
 Porque verdadeiramente
 sentir é tão complicado 
 que só andando enganado
 é que se crê que se sente.
 Sofremos? Os versos pecam.
 Mentimos? Os versos falham.
 E tudo é chuvas que orvalham 
 folhas caídas que secam.
  
  
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