Francisco Carvalho

Liturgia da Seca
 

   O vento em disparada
   arranca as plumas 
   da paisagem.

   Boi morto
   vaca morta
   bezerro morto
   cavalo morto.

   O vento arquejante assobia
   na estrada constelada
   de gritos.

   O dia áspero
   tange a diáspora
   (Homens aflitos
   se sois do Norte
   ide a procura
   de vossa morte)

   O  vento é  uma ave
   de rapina em rodopio
   sobre o esqueleto das plantações.

   O dia áspero
   tange a diáspora
   tange o passado
   tange o futuro
   tange o fantasma
   de nossa morte.