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Poesia Temática

 

Futebol

Por mim, ganharia o Romário. Gosto dos Ronaldos. Doutros mais, que nem lhes sei o nome, também gosto, mas o Baixim deveria estar por lá. Ele também!

Hoje, 31.05.2002, vai esta homenagem aos nossos "jogadores", "técnicos" — milhões. Lembro de velho meu sogro, Tomaz Ferreira, quase 90 anos, chutando o vento... Haja coração!

Grato ao poeta Marco Polo Guimarães que colaborou com alguns poemas.

O editor 

Este é o team:

 

  • João Cabral de Melo Neto: 

  1. O futebol brasileiro evocado na Europa

  2. A Ademir Meneses

  3. De um jogador brasileiro a um técnico espanhol

  4. Ademir da Guia

  5. O torcedor do América F.C.

 

 


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 


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Vinicius de Moraes

O anjo de pernas tortas

 

 

A um passe de Didi, Garrincha avança

Colado o couro aos pés, o olhar atento

Dribla um, dribla dois, depois descansa

Como a medir o lance do momento.

 

Vem-lhe o pressentimento; ele se lança

Mais rápido que o próprio pensamento,

Dribla mais um, mais dois; a bola trança

Feliz, entre seus pés – um pé de vento!

 

Num só transporte, a multidão contrita

Em ato de morte se levanta e grita

Seu uníssono canto de esperança.

 

Garrincha, o anjo, escuta e atende: Gooooool!

É pura imagem: um G que chuta um O

Dentro da meta, um L. É pura dança!   


 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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João Cabral de Melo Neto

O futebol brasileiro evocado da Europa

 

A bola não é a inimiga

como o touro, numa corrida;

e, embora seja um utensílio

caseiro e que se usa sem risco,

não é o utensílio impessoal,

sempre manso, de gesto usual:

é um utensílio semivivo,

de reações próprias como bicho

e que, como bicho, é mister

(mais que bicho, como mulher)

 usar com malícia e atenção

 dando aos pés astúcias de mão.


 

 

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A Ademir Meneses

 

Você, como outros recifenses,

nascido onde mangues e o frevo,

soube mais que nenhum passar

de um para o outro, sem tropeço.

 

Recifense e, assim, dividido

entre dois climas diferentes,

ambidestro do seco e do úmido

como em geral os recifenses,

 

como você, ninguém passou

de dentro de um para o outro ritmo

nem soube emergir, punhal, do lento:

secar-se dele, vivo, arisco.


 

 

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De um jogador brasileiro a um técnico espanhol

 

Não é a bola alguma carta

que se leva de casa em casa:

 

é antes telegrama que vai

de onde o atiram ao onde cai.

 

Parado, o brasileiro a faz

ir onde há-de, sem leva e traz;

 

com aritméticas de circo

ele a faz ir onde é preciso;

 

em telegrama, que é sem tempo

ele a faz ir ao mais extremo.

 

Não corre: ele sabe que a bola,

Telegrama, mais que corre voa.


 

 

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Ademir da Guia

 

Ademir impõe com seu jogo

o ritmo do chumbo (e o peso),

da lesma, da câmara lenta,

do homem dentro do pesadelo.

 

Ritmo líquido se infiltrando

no adversário, grosso, de dentro,

impondo-lhe o que ele deseja,

mandando nele, apodrecendo-o

 

Ritmo morno, de andar na areia,

de água doente de alagados,

entorpecendo e então atando

o mais irrequieto adversário.

 


 

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O torcedor do América F. C.

 

O desábito de vencer

não cria o calo da vitória;

não dá à vitória o fio cego

nem lhe cansa as molas nervosas.

Guarda-a sem mofo: coisa fresca,

pele sensível, núbil, nova,

ácida à língua qual cajá,

salto do sol no Cais da Aurora. 


 

 

 

 

 

 

 

 


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Ferreira Gullar

 

O Gol

 

A esfera desce

do espaço

      veloz

ele a apara

no peito

e a pára

no ar

      depois

com o joelho

a dispõe a meia altura

onde

iluminada

a esfera

     espera

o chute que

    num relâmpago

a dispara

   na direção

   do nosso

   coração.

 


 

 

 

 

 

 

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Marco Polo Guimarães

Garrincha

ele tinha a perna torta

perna troncha, distorcida

perna errada, perna virada

invertida, dobrada, partida

 

era como fosse uma perna

por uma bala atingida

mas a bala que é a morte

ele a transformara em vida

 

e virava a bala em bala

de chupar, multicolorida

ou virava a bala em bola

elétrica, trica, divertida

 

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