I
O mar alto vejo e sinto que esplende,
no azul das águas, o azul procurando
o céu. E a onda, que de música entende,
exulta, vai lenta, circunvagando
Ao clarim de anjos que cantos infletem.
Altas canções escuto comovido.
Oh, sons de sol de verão que refletem,
e brandas dominam o meu sentido.
Eis o mar de que me acresci em menino:
de algas, em tons de espumas em violino,
crescendo em vento leste que vem e vai.
- Espraiava-se, voltava, bramia fundo,
em girândolas de girar profundo,
e deslumbrava o moço olhar do meu pai.
II
Altas vozes vindas de claras águas
do mar que em mim habita permanente,
entre corais e pedras, teceis mágoas
andando que vêm sobre espuma ardente.
Vozes altas do mar, vindas em tarde
insonora do sol em poente, deixais,
na alva transparência da vaga que arde
em insossegos, cânticos que jamais
Se ouvirão em terra firme. Marinheiros,
que águas floresceis em barcos ligeiros,
à distância, escutai comigo o canto
De irmãos vossos, mortos sob ventania.
E entendei sempre as vozes em agonia
das águas fluindo em solidão e pranto.
III
Sou leal a ti e o sendo permaneço
atento ao mistério, ao azul segredo.
E a mim acrescentas, como mereço,
dom de entender o sargaço ledo.
Se o vento o traz e o tange rudemente,
semelhante ao que faz à espuma leve,
sente-se assim, no coração da gente,
quanto a vida é insegura e é breve.
Dos vários porões que bem edifica,
a onda vem agora e é alta e canta
a antiga canção que embala e adormece.
Igualdade acho na onda que não fica
imóvel com o louvor que me encanta
tecer a Byron que a onda enternece. |