Gisálio Cerqueira Filho

Cheio de Dedos
                  
 
Nesta noite, em você,
busco aconchego.

Evoco o sussurro do mar patagônico
sentia-me, então, Leviatã de todos os mares.
O vento gélido da Cordilheira
produzia um frêmito de prazer e desafio;
nossas mãos em copa recolhiam 
o frescor das águas do Urubamba.
Ah! eu dedilhava com meus medos 
todos os meus dedos, 
o teclado de um corpo oferecido
no leito de uma floresta engalanada.

A passarada, o rugir das onças e jaguatiricas,
os barulhos do Xingu, 
ecoavam no silêncio do Vale Inca,
e quando nossos dedos se trançaram
no retorno a Cuzco iluminada 
já não havia medos nem receios
éramos deuses, astronautas ...

Mas hoje, 
tantas luas passadas, páginas viradas,
lutas e lutas travadas, avanços, recuos, 
três filhos criados,
nem deuses, nem astronautas,
busco cheio de dedos,
em você mulher amada
só aconchego.

                                                                       

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 Página editada  por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  11 de Março de 1998