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Gilmar Chaves

 

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10.10.2002

Gilmar Chaves, foto de João Justino, 2002LIVRO
Páginas da Terra

Negros escravos, nações indígenas e brancos invasores foram responsáveis pela formação de um novo povo dentro deste nosso eternamente jovem Brasil, entre os séculos XVII e XVIII. Com uma tradição que se nega a se prostrar diante daqueles que, de uma forma ou de outra, continuam sendo os seus mandatários, a sociedade cearense ainda anseia pela sua própria identidade cultural, étnica, religiosa, econômica e política. “Ceará de Corpo e Alma - um olhar contemporâneo de 53 autores sobre a Terra da Luz”, organizado pelo escritor Gilmar Chaves, tentará reverter um pouco desse descaso com a nossa própria imagem. O livro será lançado na noite do próximo domingo, no encerramento da 5ªFeira Brasileira do Livro

Em “Ceará de Corpo e Alma”, a história de todos os tempos convive com o pensamento mais acadêmico e mais informal em torno da “terra dos verdes mares bravios”. Intelectuais das universidades cearenses, da Academia Cearense de Letras e do Instituto Histórico do Ceará foram sendo convidados por intermédio de Gilmar Chaves, que dedicou-se à tarefa durante os últimos dois anos.

Há 11 anos morando no Rio, Gilmar Chaves publica o livro pela editora Relume Dumará, em parceria com a Secretaria da Cultura e Desporto do Estado. “A idéia surgiu da minha vontade de ver o Ceará visto por diferentes olhares, em único livro”, introduz o organizador. A maioria dos autores é formada por cearenses.

“O objetivo é contribuir para a construção do conhecimento histórico, através das trilhas da nossa gênese e dos arquétipos da alma cearense, registrando as nossas multiplicidades e as nossas particularidades. Os autores contemplam um universo que traduz imagens que povoam a nossa memória e o nosso cotidiano, olhares contemporâneos que trazem à tona o Ceará, em seus contrastes, sobretudo históricos, geográficos e culturais”, desenvolve Gilmar Chaves.

A obra se preocupa, portanto, em promover um resgate histórico dos nossos valores, “proporcionando ao cotidiano de todas as gerações um estímulo para discutir temas que atravessam os nossos tempos”. Segundo Gilmar, os temas iniciais foram incorporando novas sugestões e foram construídos com a mais completa autonomia. “Eles conceberam seus textos, de acordo com os seus pontos de vista”, enfatiza.

Assim, o organizador chegou a 53 textos que foram construindo um grande mapa das singularidades cearenses. Como a capacidade do nosso povo de se disseminar pelos quatro cantos do mundo, descrita na crônica que encerra o livro, de autoria do escritor e compositor Tharcísio Rocha, em “O Cearense pelas Esquinas do Mundo”, onde ele enaltece essa vocação para o nomadismo, encontrando conterrâneos até mesmo no Japão e no deserto do Saara.

A obra está dividida em seis tópicos. No primeiro, “Trilhas da nossa singularidade”, encontramos descrições sobre a gênese do nosso povo, como a de Vinícius Barros Leal em “Sangue marrano em veias cearenses” ou “A Presença do negro no Ceará”, de Pedro Alberto de Oliveira Silva. Já a sociologa Peregrina Capelo faz uma incurssão por “Nossa porção vaqueiro”, enquanto Eduardo Campos aborda a “Culinária cearense” e “A Carnaubeira”.

“Dunas, Rios e Serras” é a segunda parte do livro. A descrição dos aspectos geográficos fundamentais do nosso povo envolve de “Fortaleza, mar e sertão”, de José Borzacchiello da Silva, às “Chapadas e serras”, por Caio Lóssio Botelho.

O tópico “Educação, cultura e esporte” traz comentários de Carlos d’Alge sobre “O Ceará e as suas universidades”, até “A Arte Pré-histórica no Ceará”, descrita por Estrigas e “O Ceará de pedra e bronze”, rica referência histórica de Ricardo Oriá sobre as origens dos nossos “monumentos históricos em praça pública”.

A “Religião” é abordada por estudiosos como Antônio Mourão Cavalcante em “Romaria, fé e cura”. Já nossas “Historiografia e Literatura” são comentadas por Eduardo Diatahy Bezerra de Menezes, em “Os Historiadores do Ceará”; Arthur Eduardo Benevides, em “As Academias”, Sânzio de Azevedo, em “A Padaria Espiritual e sua Originalidade” e ainda Batista de Lima, em “A Literatura cearense: do Grupo Clã às rodas de poesia”.

O tópico sobre a “Comunicação” traz artigos de Blanchard Girão (“Os Jornalistas”) e ainda Andréa Pinheiro e Narcélio Limaverde, sobre o rádio de ontem e de hoje. Ainda em clima de reminiscências, a escritora Ana Miranda assina “Ceará”, no tópico final “Saudades do Ceará”, aquele que tem ainda a crônica de Tharcísio Rocha, entre textos de Lúcio Brasileiro e de Isabel Lustosa.

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