LIVRO Páginas da
Terra
Negros
escravos, nações indígenas e brancos invasores foram
responsáveis pela formação de um novo povo dentro deste
nosso eternamente jovem Brasil, entre os séculos XVII e
XVIII. Com uma tradição que se nega a se prostrar diante
daqueles que, de uma forma ou de outra, continuam sendo os
seus mandatários, a sociedade cearense ainda anseia pela
sua própria identidade cultural, étnica, religiosa,
econômica e política. “Ceará de Corpo e Alma - um olhar
contemporâneo de 53 autores sobre a Terra da Luz”,
organizado pelo escritor Gilmar Chaves, tentará reverter um
pouco desse descaso com a nossa própria imagem. O livro
será lançado na noite do próximo domingo, no encerramento
da 5ªFeira Brasileira do Livro
Em
“Ceará de Corpo e Alma”, a história de todos os tempos
convive com o pensamento mais acadêmico e mais informal em
torno da “terra dos verdes mares bravios”. Intelectuais
das universidades cearenses, da Academia Cearense de Letras
e do Instituto Histórico do Ceará foram sendo convidados
por intermédio de Gilmar Chaves, que dedicou-se à tarefa
durante os últimos dois anos.
Há
11 anos morando no Rio, Gilmar Chaves publica o livro pela
editora Relume Dumará, em parceria com a Secretaria da
Cultura e Desporto do Estado. “A idéia surgiu da minha
vontade de ver o Ceará visto por diferentes olhares, em
único livro”, introduz o organizador. A maioria dos
autores é formada por cearenses.
“O
objetivo é contribuir para a construção do conhecimento
histórico, através das trilhas da nossa gênese e dos
arquétipos da alma cearense, registrando as nossas
multiplicidades e as nossas particularidades. Os autores
contemplam um universo que traduz imagens que povoam a nossa
memória e o nosso cotidiano, olhares contemporâneos que
trazem à tona o Ceará, em seus contrastes, sobretudo
históricos, geográficos e culturais”, desenvolve Gilmar
Chaves.
A
obra se preocupa, portanto, em promover um resgate
histórico dos nossos valores, “proporcionando ao
cotidiano de todas as gerações um estímulo para discutir
temas que atravessam os nossos tempos”. Segundo Gilmar, os
temas iniciais foram incorporando novas sugestões e foram
construídos com a mais completa autonomia. “Eles
conceberam seus textos, de acordo com os seus pontos de
vista”, enfatiza.
Assim,
o organizador chegou a 53 textos que foram construindo um
grande mapa das singularidades cearenses. Como a capacidade
do nosso povo de se disseminar pelos quatro cantos do mundo,
descrita na crônica que encerra o livro, de autoria do
escritor e compositor Tharcísio Rocha, em “O Cearense
pelas Esquinas do Mundo”, onde ele enaltece essa vocação
para o nomadismo, encontrando conterrâneos até mesmo no
Japão e no deserto do Saara.
A
obra está dividida em seis tópicos. No primeiro, “Trilhas
da nossa singularidade”, encontramos descrições sobre a
gênese do nosso povo, como a de Vinícius Barros Leal em
“Sangue marrano em veias cearenses” ou “A Presença do
negro no Ceará”, de Pedro Alberto de Oliveira Silva. Já
a sociologa Peregrina Capelo faz uma incurssão por “Nossa
porção vaqueiro”, enquanto Eduardo Campos aborda a “Culinária
cearense” e “A Carnaubeira”.
“Dunas,
Rios e Serras” é a segunda parte do livro. A descrição
dos aspectos geográficos fundamentais do nosso povo envolve
de “Fortaleza, mar e sertão”, de José Borzacchiello da
Silva, às “Chapadas e serras”, por Caio Lóssio
Botelho.
O
tópico “Educação, cultura e esporte” traz
comentários de Carlos d’Alge sobre “O Ceará e as suas
universidades”, até “A Arte Pré-histórica no Ceará”,
descrita por Estrigas e “O Ceará de pedra e bronze”,
rica referência histórica de Ricardo Oriá sobre as
origens dos nossos “monumentos históricos em praça
pública”.
A
“Religião” é abordada por estudiosos como Antônio
Mourão Cavalcante em “Romaria, fé e cura”. Já nossas
“Historiografia e Literatura” são comentadas por
Eduardo Diatahy Bezerra de Menezes, em “Os Historiadores
do Ceará”; Arthur Eduardo Benevides, em “As Academias”,
Sânzio de Azevedo, em “A Padaria Espiritual e sua
Originalidade” e ainda Batista de Lima, em “A Literatura
cearense: do Grupo Clã às rodas de poesia”.
O
tópico sobre a “Comunicação” traz artigos de
Blanchard Girão (“Os Jornalistas”) e ainda Andréa
Pinheiro e Narcélio Limaverde, sobre o rádio de ontem e de
hoje. Ainda em clima de reminiscências, a escritora Ana
Miranda assina “Ceará”, no tópico final “Saudades do
Ceará”, aquele que tem ainda a crônica de Tharcísio
Rocha, entre textos de Lúcio Brasileiro e de Isabel
Lustosa.
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