Gilberto Diener
Introdução
Éramos meninos ainda,
quando minha mãe contava. Ao redor,
das madrugadas de negrumes,
das pesadas chuvas,
dos riachos e rios fazendo
transbordar Itajá.
Naquelas noites as mulheres pariam filhos,
gatos nasciam nas bananeiras,
cobras entravam
pelas casas e ranchos.
Os homens gemiam de febre,
a febre gelada da solidão.
Falava também das cidades,
de uma fulana Goianésia,
outra chamada Anápolis,
aldeia Brasília,
povoado Monte Carmelo.
De um país chamado Gerais, Minas, Goiás.
Éramos meninos vindo de um estreito,
escutando assustados
O apito do trem de ferro.
( Era um trem fantasma
passando sinistramente na noite).
Caçando frutas e codornas.
Arados, matas, bicas, corgos,
mergulho fundo,
acampamentos de madeiras.
Assim meninos ainda, aprendemos a sonhar,
sonho de olhos abertos.
Amor caipirano faz parte deste
sonho.
Bahia / 1982
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