Gilberto Diener

Amor Caipirano

Vaga viola, viola cigana a clarear... Morrer de amor é loucura. Beira de rio, sol de meio-dia; Porta aberta a reparar: As embarcações vão subindo o rio, Assim como os bichos a desninhar Na variação das estações, Vai-se madurando amor à roça... Tenho pensado com o coração Na sua vota repentina; Sua chegada sempre faz estourar as maritacas nos quintais. Vaga presença, chiar intenso... Cigarras nas árvores desfolhadas E nós atracados corpo a corpo, Feito bichos no cio, Estalando nas folhas secas... Amor imenso fazia alastrar queimadas Por entre jaraguás secos, Peito ardendo em labaredas... Morrer assim!!! Beira de estrada poeirenta Rostos pálidos na estiagem. Se acabar assim!!! Ipês roxeando, amarelando... Morrer de amor é loucura. Vaga viola, viola cigana a clarear... A espera de uma vida toda Percorrida pelas estiagens e lagoas prateadas, Na derrubada dos ranchos e matas, O taquaral era só ventania E a ventania era só varal Era uma hora medonha: Preso ao seu visgo, resistia... Tudo se recomeçava novamente E as coisas se punham no lugar. Amar demais sempre trouxe fortes momentos, Mas em nenhum instante sequer se desfez a espera; Sua chegada é marcada Pelo estouro das maritacas em meu peito. Alegria de minha vida clareia... Viola cigana, viola doida varrida... Amor caipirano.

Bahia / 1982

* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *