Termina o poema filosoficamente:
“Vem! Do mundo leremos o problema
Nas flores da floresta, ou do poema,
Nas trevas ou na luz...
Não vês?... Do céu a cúpula azulada,
Como uma taça sobre nós voltada,
Lança a poesia a flux!...”
Certo panenteísmo (Deus em tudo e tudo em Deus) perpassa no poema e em tantos e tantos de Alves, pois a Natureza lhe está sempre presente.
A poesia social (sem aspas aqui) de Castro Alves, contém, como na política, aliás complementar e se interagindo, visão do pensamento fundamental do século XIX e um dos fatores da filosofia: a liberdade e o respeito do homem, dos direitos do homem. O que vemos em “Ao Romper D’Alva”, “A Visão dos Mortos” e “A Canção do Africano”, dentre tantos e tantos.
Finalizo chamando a atenção de um dos mais belos poemas do poeta: O Vidente, poesia bíblica, lembrando um tanto Poe e bastante de Whitman.
O termo vidente conota, ao mesmo tempo, sentido de filosofia estrita (visão) (theoria do grego), o sentido da interioridade, do saber ver, do contemplar. Além da citação inicial de Isaías, fala Castro em salmo, apela misticamente a Deus com o nome de Senhor – Javé ou Iavé, além de termos religiosos como freira, alma, prece, terra e céus e a sombra de Deus. Filosofia religiosa, que se agiganta em Jesuítas. Há, aqui e ali, certo anticlericalismo, próprio do espírito da época. Há saudade íntima, nostalgia ao modo brasileiro.
* Germano Machado é filósofo cristão e professor; fundador do Círculo de Estudo Pensamento e Ação (CEPA). Excertos do texto original.