Gonzaga Leão
A praça
Não te chamo a passeio pela praça
porque a praça morreu e está cercada
de muros. Há estranhos operários
trabalhando: em luga de pá e enxada
usam feios fuzis e sabres sujos.
E as árvores da praça assassinada
já não podem dar flor nem dar mais fruto
nem mesmo a sombra amiga e desejada.
Por isso não te chamo para a praça
com este céu de manhã quase noturno
e operários estranhos e fardados.
Peço-te apenas que me dês a mão
e juntos amassemos nosso pão
que se é feito de amor não sai amargo.
* composto em 1964 quando da visita aos amigos presos, no Velha Penintenciária, demolida para ceder luga a uma feira de camelôs.
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