Gomes de Sousa


Henrique Dias

Do Norte a gentil sultana Cedeu, pela prima vez, Sua cerviz soberana Ao férreo jugo holandês. Ai! pobre da malfadada, Tão cruamente algemada, Ao cepo do servilismo Que triste que foi-lhe a sinal Nem uma luz a ilumina Nas profundezas do abismos Seus lindos rios saudosos Seus frescos, flóreos palmares, Seus passarinhos formosos De harmonia enchendo os ares, Suas campinas de flores, Seus matizes, seus verdores Vão ser bens dum outro dono! E tu, sultana do Norte, Pelos caprichos da sorte, Vais dormir de escrava o sono! Nem mais a lua te banha Com seus arroios de prata, Quando da etérea montanha Nos lagos teus se retrata; Que se expira a liberdade No seio de uma cidade Tu aí também expira, Como da moça, os encantos Vão morrer nos frios prantos, Nos tristes ais que suspira. Porém não! Ao longe soa O grito horrendo da guerra, E ao som, que ao longe reboa, O fero holandês se aterra! Erguem-se as vastas bandeiras, Marcham avante as fileiras, Que em seu socorro Já vêm; Pois que do Norte a sultana Sua cerviz soberana Nunca curvou a ninguém. Ao retroar das metralhas, Da guerra ao tufão que soa, Como o gênio das batalhas, Henrique Dias lá voa! Da larga mão bronzeada Vai pendente a nua espada, — Raio que os mandões fulmina! E cada golpe que vibra Faz quebrar fibra por fibra Dos mandões a raça indiana. Preto, mais nobre que um nobre, Ou nobre como um Bragança, Sob a epiderme de cobre Uma alma de ouro descansa E, se as coroas coubessem Àqueles que se expusessem Da sua pátria em defesa, Seria o rei mais perfeito... Se é que a púrpura — do peito Não faz murchar a nobreza ... Matando a todos de inveja Com sua nobre altivez, Temeu-o então na peleja O fero povo holandês. E tu, valente soldado, Corajoso e denodado Despedes golpes de morte; Por teu denodo guerreiro Livraste do cativeiro A linda filha do Norte. Então a gentil cativa Sua beleza assumiu, E erguendo a cerviz altiva Ao seu guerreiro sorriu: Assim a virgem formosa Expõe as faces de rosa Aos beijos do amante seu, Tão satisfeita e contente Do rico e lindo presente Que pela festa lhe deu. Feliz quem leva da espada Em prol de sua nação! Ou quem, vendo-a escravizada, Expira, como Catão! Catão! Ainda parece Que o Capitólio estremece À voz do grande Romano! Catão! Com quanta saudade Viu calcada a liberdade, Aos pés do César tirano! Foi assim Henrique Dias, Valente como ninguém! De sua nobre ousadia Deu-lhe o Brasil parabém. Oh! Bayard da liberdade, Teu nome famoso há de Afrontar do tempo a ação; E a par dos nobres guerreiros E dos heróis brasileiros Terás a tua oblação.


* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *