Grácia Passos

Agosto
                                 
                                                                               
                           
" Cibernetizada te procurei
mecânica e automatizada
busquei você nos botecos abertos
não encontrei
Arrisquei-me por paralelepípedos tropeçantes
e de poças putrefantes desviei
por ruelas adentro
não encontrei.
Desanimada penetrei em farmácias noturnas de esquina
nada comprei
atravessando a rua,
acompanhei a sua forma abstrata
imaginei
procurei nas baianas de acarajé
e entre milhos assados
ao menino da pipoca perguntei
nas barracas de cachorro-quente
ainda tentei
Entre os que saem das reuniões pensei
observei os que freqüentam cursinhos noturnos
e mesmo estando errada
aos que vagam sem destino
a mim comparei
sonâmbula e à deriva
procurei você nos olhos das mulheres
entre as que vendem o corpo não achei
entre as que  se amam
para também te amar
não encontrei
No centro da Cidade
na Praça da Piedade me orientei
pelos relógios apressados
apressei meu compassar cardíaco
adiantei.
Uma loja aberta...
vagarosamente caminhei catando tua sombra
Flagrei-me entre os abrigados
pelas marquises
olhando vitrines
não acertei
entre casais de namorados
e entre os pobres abandonados
buscando avitamínico pão
não encontrei.
Busquei você
na praça esquartejada pelas obras do prefeito
povoada por crianças desemparadas
ajuizei nos lugares errados
tudo encontrei
Busquei seu perfume no vento
respirei apenas gases de automóveis
dentro destes
um a um
procurei desanimada por você
não achei
entre lágrimas
sentei no estúpido meio-fio
esperei você
sonhando acordada
libertei-me dos laços do real
e entre nuvens de prazer... eu te amei. "
                                                                     

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 Página atualizada  por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  09  de  Junho  de  1998