Gregório de Matos
Soneto
Continua o poeta em louvor a soledade vituperando a corte
Ditoso aquele, e bem-aventurado,
Que longe, e apartado das demandas,
Não vê nos tribunais as apelandas
Que à vida dão fastio, e dão enfado.
Ditoso, quem povoa o despovoado,
E dormindo o seu sono entre as holandas
Acorda ao doce som, e às vozes brandas
Do tenro passarinho enamorado.
Se estando eu lá na Corte tão seguro
Do néscio impertinente, que porfia,
A deixei por um mal, que era futuro;
Como estaria vendo na Bahia,
Que das Cortes do mundo é vil monturo,
O roubo, a injustiça, a tirania?
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *