A Minha filha, como agora, eu penso,
Era, quando nasceu,
Um anjo de olhos cor do mar, suspenso
De um sonho cor do céu.
Hoje um mês completou. Lírios se abriam,
Aos raios da manhã,
E, abrindo as folhas, trêmulos, diziam:
Nasceu-nos uma irmã.
Movendo os negros cílios delicados,
De miragens tão nus,
Ela sentiu os olhos magoados
Por um raio de luz.
Então, chorou. Um prófugo vagido
Do seio lhe saiu,
Tão leve como o ar, mais tênue que o gemido
Que um sorriso partiu ...
Por que será que a lágrima primeiro
Brilha nos olhos castos da criança,
Antes que o riso, místico e fagueiro,
Venha tecer-lhe um nimbo de esperança ?
Por que a dor nesta penumbra santa
Do poema da vida, no universo,
É a primeira estrofe que se canta
E sempre, e sempre ... o derradeiro verso?
Na gaze envolta de infinita mágoa,
Na solidão do luto e da saudade,
Dir-se-ia a terra, pobre gota de água
A boiar ... a boiar ... na imensidade!
De minha filha a lágrima bendita
Está no céu ... ai! quando quero vê-la,
Contemplo o azul da abobada infinita,
E vejo-a transformada numa estrela.
Porque-bem sei que Deus recolhe o pranto
Da criancinha escrava do martírio:
Guarda-o depois, em cofres de amianto,
Mudado em astro ou transformado em lírio.
Se esta verdade uma mentira fosse,
Nossa Senhora não viria à terra,
Trazer, num beijo cristalino e doce,
Toda a inocência que a criança encerra.
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Que seria, do céu, loiro e divino,
Sempre queimado pela luz do sol ?
Basta a mãozinha branca de um menino
Para extinguir o incêndio do arrebol ! |