Henrique Castriciano

Beija-Flores
 
 
Dois Beija-flores, de asas rutilantes, 
No mesmo ramo em que seu berço esteve, 
Do sol teceram, aos raios iriantes, 
Formoso ninho pequenino e leve. 

E delicados, meigos, indecisos, 
Se consultaram, como nós fazemos, 
Quando, entre beijos, preces e sorrisos 
Pergunta-o amor si o ninho já tecemos. 

Disse o primeiro: “ Me aborrece o prado ! 
Tem muita relva, mas contém abrolhos ... ” 
(Como a criança e como o namorado 
Os beija-flores falam pelo olhos) 

Disse o segundo: “ Bem pertinho .. ali ... 
Há muito silfo e muita violetas: 
Tem mariposas! Por signal que vi, 
Só numa rosa, quatro borboletas ! 

Depressa, vamos ao pomar de Bertha ...! 
E erguem o vôo, trêfego, sereno; 
Mas, vendo Branca que, a sorrir desperta: 
“ Olha ! uma fruta ! ” chilra o mais pequeno... 

- “ Fruta com braços ! Quem te disse isto ? 
Pois é tão louco o teu simar, tão louco, 
Que não se lembra do menino Cristo ? 
Aquela é Branca e batizou-se há pouco.” 

E mal retiro o berço perfumado, 
Feito da alvura de cheirosos linhos, 
Heis outro berço logo pendurado ... 

Bem invejosos são os passarinhos !

 
 
Remetente: Walter Cid

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Página atualizada por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  28  de  Julho  de  1998