Heleno Godoy 

O Alicate
 
Ele oprime nossas mãos ao assumir
uma postura própria delas. Pressionado,
corta, torce, machuca, prolonga-se como
réptil escorregadio, caranguejo em
seu trabalho de voltar, indo e vindo
encapado, milionariamente embrulhado
em borracha ou plástico.
      É um gigante
de traços finos, dentes incisivos, pernas
como as de um fantasma gentil
abrindo a si mesmas e, ao mesmo
tempo, a boca. Imaginária amante
oferecendo-se, inconvencional.
    Quem,
entre os que não trabalham, aceitaria
seu convite concavidade? Ao redor de
dificuldades, preso entre dedos fortes,
no entanto, um alicate viaja. Compreen-
sivelmente, como um cidadão esquecido de
seus pecados, que nada requer, nada oferece.
 
 
[ Poema extraído do livro Trímeros - Goiânia, 1993 ]
       

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Página editada por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  02 de dezembro de 1997