Heleno Godoy 

Sem Título
 
Deve haver uma razão para tudo isso:
o porquê de existir esta porta e a janela
abrir para o oeste, esta. Aquela outra, 
ao leste, abre seus lados libertos, des-

trancados, e deixa que um sol morno
entre pela manhã, apagando o  mofo que
se estende pela parede inconsequente.
Deve haver uma outra razão para isso.

Deve haver uma razão para essa fumaça
branca à tarde, que se dispersa e não
se ajunta, mas incomoda e irrita, claro.
O porquê de haver um vidro de compota

intocado, não para ser comido, mas para
ser deixado lá, sobre a mesa, como um
enfeite, uma chamada, um aviso, medida
de conveniência, paciente presença cuja

razão escapa a quem se indaga sobre...
Mas, se existe razão, por que escapa ela
ao entendimento de quem vive na casa e
nem se pergunta sobre tais fatos? Falha

a percepção que têm da casa: uma ou duas
janelas, uma porta fechada ou aberta, um
sol matutino, aquele vidro abandonado,
como outras coisa entre as paredes da casa.

 
 
[ Poema extraído do livro A Casa - Goiânia, 1992. ]
       

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Página editada por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  02 de dezembro de 1997