Deve haver uma razão para tudo isso:
o porquê de existir esta porta e a janela
abrir para o oeste, esta. Aquela outra,
ao leste, abre seus lados libertos, des-
trancados, e deixa que um sol morno
entre pela manhã, apagando o mofo que
se estende pela parede inconsequente.
Deve haver uma outra razão para isso.
Deve haver uma razão para essa fumaça
branca à tarde, que se dispersa e não
se ajunta, mas incomoda e irrita, claro.
O porquê de haver um vidro de compota
intocado, não para ser comido, mas para
ser deixado lá, sobre a mesa, como um
enfeite, uma chamada, um aviso, medida
de conveniência, paciente presença cuja
razão escapa a quem se indaga sobre...
Mas, se existe razão, por que escapa ela
ao entendimento de quem vive na casa e
nem se pergunta sobre tais fatos? Falha
a percepção que têm da casa: uma ou duas
janelas, uma porta fechada ou aberta, um
sol matutino, aquele vidro abandonado,
como outras coisa entre as paredes da casa. |